Branca de Neve e o Caçador
Os clássicos infantis, ou pelo menos grande parte deles, não eram originalmente histórias para crianças e, ao longo dos anos, receberam diferentes versões, de acordo com a cultura de cada povo que as contava. Muitos desses contos tem origem nas classes camponesas de muito séculos atrás e foram objetos de estudo do historiador Robert Darnton, autor de O Grande Massacre de Gatos, livro que reúne estudos sobre esse tema. Branca de Neve e o Caçador (Snow White and the Huntsman) não é o primeiro filme hollywoodiano a reinventar um clássico infantil – ano passado tivemos Amanda Seyfried em A Garota da Capa Vermelha – e provavelmente não será o último, já que ele já tem uma continuação planejada. Será que a moda pegou?
Nessa nova versão de Branca de Neve e os Setes Anões, um rei resgata numa batalha uma prisioneira do exército inimigo, interpretada pela bela Charlize Theron (Jovens Adultos). Eles rapidamente se casam e ela não perde tempo para matá-lo e dominar seu reino trazendo as trevas para ele. Assim, ela se torna a Rainha Má e a bela Branca de Neve, cujo papel é de Kristen Stewart (Na Estrada, Corações Perdidos), fica órfã. Quando a personagem de Charlize se olha no espelho e descobre necessitar de Branca para manter sua beleza para sempre, a adolescente aproveita para fugir. A Rainha Má mandará então um caçador viúvo (Chris Hermsworth) para trazê-la de volta ao reino.
Não foi dessa vez que um conto infantil ganhou sua versão digna das plateias adultas ou de suas versões originais. Se A Garota da Capa Vermelha era claramente um filme teen, com triangulo amoroso meio bobo (estilo Crepúsculo) mas interessante e uma trama de mistério apropriada, a nova versão de Branca de Neve continua moralista e infantil como a animação da Disney, embora o clima de guerra, obsessão e traição se instale. Ficou mais violento, mais divertido, mas a essência permanece.
Falta ousadia em Branca de Neve e o Caçador. Às vezes ele faz um bom uso de alguns pontos da versão mais conhecida, mas o filme é previsível e cheio de clichês. É uma versão Senhor dos Anéis do conto: parece uma mistura de Robin Wood com Harry Potter (alias, muita coisa lembra essa série nesse longa). É divertido, mas nada surpreendente. Bom mesmo são as atuações: Theron está diva como a Rainha Má e Kristen mais uma vez se destaca. A fotografia do filme e as empolgantes cenas de ação também resultam positivamente.
Em suma, falta um diretor com menos vista para os lucros e mais vontade de inovar para fazer um filme realmente novo baseado num conto. O melhor de Branca de Neve e o Caçador são as duas atrizes e a fotografia – se o filme tivesse mais criatividade valeria bem mais a pena. Dica para a música Breath of Life, da banda Florence and the Machine, logo no início dos créditos finais.