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Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes

The Weeknd estreia nos cinemas em “Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes” com Jenna Ortega como seu duplo

Após iniciar a divulgação do álbum “Hurry Up Tomorrow” com show em São Paulo em setembro, no qual apresentou, em primeira mão, suas músicas inéditas, o canadense Abel Tesfaye ameaça matar o seu alter ego The Weeknd em sua fase atual, que marca o fim da trilogia iniciada com o álbum “After Hours” e “Down FM”. Parte da narrativa do novo trabalho é o longa-metragem “Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes”, de Trey Edward Shults (“Ao Cair da Noite”), no qual Abel contracena com a atriz Jenna Ortega (da série “Wandinha”). O filme chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (15). 

Nem o mais entusiasta fã do cantor, entretanto, podia ter expectativas elevadas com a estreia de Abel nas telonas, após o desastre da sua série The Idol, exibida pela HBO. O intérprete de “Save Your Tears”, por outro lado, costuma produzir bons videoclipes – na era do “Hurry Up Tomorrow”, por exemplo, colocou Anitta grávida em uma espécie de body horror experimental para o clipe de “São Paulo”, faixa na qual a brasileira canta em português um sample de Tati Quebra Barraco. 

Se o longa-metragem de Shults fosse nessa linha, de um grande videoclipe experimental, talvez o segundo desastre na carreira de atuação do canadense tivesse sido evitado. Isso pois “Além dos Holofotes” tem escolhas visuais interessantes em alguns momentos, com uma presença marcante do elemento fogo e, como ponto alto, uma sequência de sonho (que não é nada inovadora, mas funcionaria bem em um clipe). O fogo, aliás, teve bastante impacto no show em São Paulo, e outros aspectos visuais da era, como a roupa ou a igreja etíope na qual ele canta no palco, poderiam ter sido incorporados para criar uma história autêntica. 

Entretanto, o filme se estende demais nos dilemas de The Weeknd com a fama, como uma terapia em forma de um roteiro que soa batido do começo ao fim. Inspirado em um episódio real no qual o cantor perdeu a voz no começo de um show em 2015, “Além dos Holofotes” não foge do clichê ao mostrar como Abel é um coitado em meio a tanta fama, dinheiro, mulheres, drogas, e todo aquele sofrimento pela pressão e expectativas da profissão de pop star. Para disfarçar a narrativa cansada, o filme introduz Ani (Ortega), uma jovem que bota fogo na própria casa, rouba um pouquinho mais de gasolina (afinal, por que não?) e, na sequência, compra um ingresso de pista premium para o show de The Weeknd, bem na grade. 

Abel e Ani imediatamente se conectam, mas o filme só engrena mesmo quando a garota finalmente apresenta a sua personalidade de fã incendiária para o cantor. Todavia, a produção derrapa de novo com Ortega torturando The Weeknd ao forçá-lo a ouvir suas próprias músicas (sim, é isso mesmo) e tecendo interpretações sobre elas, uma tríade escolhida a dedo que começa na euforia de “Blinding Lights”, entra em combustão com “Gasoline” (que Ani considera um flop) até a redenção da faixa de “Hurry Up Tomorrow”. É tudo muito óbvio, tal qual Ani e Abel são duplos um do outro: há até um efeito de transição dos mais bregas para desenhar, caso a metáfora não tenha ficado clara.    

“Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes” é um retrato de artista fragmentado entre quem é Abel, o seu lado inocente, inconsequente e perturbado representado por Ortega, e The Weeknd, a persona que a indústria da música criou e com a qual a sua personalidade se confunde. É uma ideia que poderia ter funcionado, mas, sem criatividade no roteiro e com hiperfoco nas dores de Abel, resulta em uma obra que não empolga como cinema e, com a total falta de foco na música e no álbum em sim, não empolga sequer como um guilty pleasure para os fãs. 

E a tão anunciada morte do alter ego “The Weeknd”, o grande clímax da nova era, ficou, aparentemente, para a continuação. 

Por Gabriel Fabri (@_gabrielfabri)
Jornalista, especializou-se em Cinema, Vídeo e TV pelo Centro Universitário Belas Artes. Colaborou com Revista PreviewRevista FórumEm Cartaz e com o livro O Melhor do Terror dos Anos 90 (Editora Skript). É autor de Fora do Comum – Os Melhores Filmes Estranhos e O Pato – Uma Distopia à Brasileira.
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