Diário da 37a Mostra – Vol. 5
O diário da 37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo chega ao seu último post! Nesse volume 5, mais dicas de longas para assistir. De filme brasileiro a iraniano, tem para todos os gostos.
O Pop with Popcorn, pelo segundo ano consecutivo, traz algumas dicas para os nossos leitores não ficarem por fora do maior evento de cinema de São Paulo. Nessa edição, foi feita uma série de pequenos “diários” com os filmes vistos a cada dois ou três dias. Para acompanhar a série completa, clique aqui e confira o especial. Em breve será publicado o ranking com os melhores filmes, fique de olho!
Confira o nosso 5º especial da jornada:
Essa misteriosa moça passa a ser questionada também, quando Jafar Panahi aparece em cena, gravando, mexendo nos objetos, interagindo, e, aos poucos, começa a ganhar maior dimensão no filme, em detrimento do papel principal, desestabilizando a obra e os sentidos construídos para ela até então. E, assim, paira no ar ainda mais o mistério em torno da mulher: se antes não sabíamos quem ela realmente era, o espectador se pergunta o que ela realmente é.
18) Ana Arábia
Um dos filmes mais aguardados da Mostra, é dirigido pelo israelense Amos Gitai (Aproximação) e foi realizado em um único plano-sequência – ou seja, os 81 minutos do longa foram realizados sem cortes. Após dez tentativas, o resultado ficou pronto.
A câmera acompanha uma jornalista em visita a um vilarejo aonde coexistem, pacificamente, judeus e árabes. Ela vai, pacientemente, ouvindo as histórias dos moradores, deixando-os falar.
A escolha por realizar um plano-sequência parece ter sido feita mais para o diretor se auto-desafiar do que para agregar algum sentido à obra. Gratuita, a decisão por um único plano não agrega em nada. Pelo contrário, apenas mantém o espectador distante dos personagens, impedindo um envolvimento maior com as narrativas dos moradores. A distância e grande quantidade de coadjuvantes parece tornar tudo superficial, além de correr o risco do espectador, ao invés de tentado a refletir sobre a obra, se distanciar dela.
19) Educação Sentimental
Dirigido pelo brasileiro Júlio Bressane, Educação Sentimental é um filme hermético, mas muito simples. O romance entre uma professora e um aluno é contado por meio do que talvez seja uma investigação da arte do cinema. Pois esta é, sobretudo, uma arte que concilia todas as outras e Bressane torna isso explícito. Os diálogos entre os dois (ou o monólogo da principal?), no início do filme, lembram uma palestra ensaiada – ou melhor, um texto teatral, bastante artificial, com uma entonação de voz por parte de Áurea (Josie Antello) que parece voltada a uma sala de aula ou a uma plateia.
Adentramos o coração da personagem ao longo do filme, por meio de suas citações literárias, sua música, sua poesia, seus quadros, o rolo de filme que ela guarda e suas performances de dança. É assim que ela se abre para o garoto, que mal conhecemos e nem o conheceremos. O público, por meio do apreço pela arte da protagonista, vai imaginando aos poucos quem é a Áurea, mesmo que para isso tenha que viajar mais para dentro de si mesmo, e tentar arrumar algum sentido em uma performance de dança supostamente aleatória que apareça, por exemplo.
Numa segunda leitura, Educação Sentimental pode ser uma subversão do erotismo, ao colocar Áurea demonstrando erudição ao invés de uma postura sedutora, carnal, para conquistar o rapaz. Mas fica claro, não só pela ênfase dada a todas as artes citadas, a discussão sobre cinema: o epílogo, uma série de cenas de bastidores, está aí para lembrar-nos de que tudo não passa de uma farsa e que o cinema é uma ilusão em que todos acreditamos, na qual os personagens não passam de marionetes.
Volte em breve para conferir a seleção dos melhores 37ª Mostra!
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