Gloria
Por Gabriel Fabri
No momento mais interessante de Gloria, filme chileno de Sebastián Lelio, o plano contrapõe a personagem principal que dá nome à obra e um protesto estudantil, cenário muito comum no Chile atual. Enquanto os jovens seguem cheios de vigor, cantando contra os “filhos da puta” e exibindo cartazes, Gloria segue cabisbaixa, melancólica, na direção oposta. Na contramão do futuro, que caminha em direção à esquerda (em oposição à política conservadora que vigora no Chile), a personagem demonstra ter perdido as esperanças agora que está na velhice. Ela não vive mais fazendo planos, por que o seu único objetivo é viver o aqui e o agora.
O longa acompanha a rotina de Gloria, vivida por Paulina Garcia, tentando aproveitar esse seu momento. Ela tem um emprego estável, seus filhos já cresceram, seu ex-marido já está com outra, em suma, tudo está aonde deveria estar. Triste e solitária, ela sente o vazio e a morbidez da velhice e tenta aproveitar a mesmice da rotina para se divertir. O seu recomeço pode ser com o simpático Rodolfo, um senhor divorciado há apenas um ano, mas cujas filhas e ex-mulher ainda são muito dependentes.
Ao optar ambientar a trama no contexto atual, inserindo uma crítica à história recente chilena, o diretor perdeu uma ótima oportunidade de explorar essa nuance. A política fica restrita a duas ou três cenas rápidas, quando se poderia traçar um caminho mais reflexivo e interessante. O contraponto entre os jovens fartos do país que cresce sem entregar-lhes grandes perspectivas, lutando por um futuro melhor, e uma senhora que viveu todos esses anos (que incluíram uma ditadura militar e desastrosas políticas neoliberais) e também está sem perspectivas poderia dar maior substância não só à trama quanto à própria personagem principal.
Sobra a história de uma mulher tentando aproveitar a velhice e seu relacionamento com um homem apegado demais ao passado para pensar em outra coisa. Ainda assim poderia ser interessante, mas o romance não convence e Gloria acaba como um relato de um cotidiano banal e tedioso, mesmo com todas as tentativas da personagem de escapar a isso. A cena final e a reunião de família são pontos altos de um filme mediano, que aborda questões que já foram exaustivamente e melhor retratadas em longas como o recente Os Belos Dias, com Fanny Ardant, só para citar um exemplo.
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