Uma Longa Queda
Por Gabriel Fabri
Martin Sharp era apresentador de um dos programas de maior audiência do Reino Unido e tinha uma vida familiar confortável e aparentemente estável. Até ele ser condenado à prisão por fazer sexo com uma menina de 15 anos, que teria afirmado ser maior de idade. A carreira, o casamento, o relacionamento com as filhas, a reputação: tudo o que ele construiu ao longo da vida foi arruinado. Sem perspectivas para o futuro, Sharp resolve se atirar de um prédio na noite de ano novo. O que ele não contava era que outras três pessoas também tivessem a mesma ideia. Esse é o mote da comédia “Uma Longa Queda” (A Long Way Down), adaptação homônima do romance do inglês Nick Hornby para os cinemas.
Junta-se a Sharp (Pierce Brosnan) um grupo de pessoas que se consideram miseráveis, cada um à sua maneira. A adolescente Jess (Imogen Poots) está com o coração partido após ter transado com um garoto que a descartou logo em seguida; a cinquentona Maureen (Toni Collette) se sente sozinha, cuidando de seu filho, um jovem com deficiência; o entregador de pizzas JJ (Aaron Paul) alega estar morrendo de um câncer cerebral, mas esse não parece ser o real motivo de ele preferir a morte à vida.
Essa reunião de pessoas completamente diferentes, tendo em comum o fato de serem todos melancólicos e perdidos, poderia gerar vários tipos de conflitos e situações. Com isso em vista, o filme recria e desconstrói alguns acontecimentos do livro, como, por exemplo, o motivo de eles terem descido da torre – muito mais plausível no filme. Mudanças como essa são muitas (além de que praticamente a segunda metade inteira do livro é descartada), mas são, em sua maioria, positivas para a trama, que tem ritmo e é envolvente.
A narração do livro de Hornby, feita por todos os quatros personagens, intercalando-os, é transposta para o filme, que dá voz para cada um deles narrar um pedaço da história, uma única vez. Assim, o diretor Pascal Chaumeil aproxima um pouco o público dos pensamentos de cada um dos integrantes da “gangue” suicida. Não chega a adquirir, porém, uma profundidade significativa aos personagens. E ai que está o problema: desprovidos de complexidade, todos parecem muito superficiais. E fica difícil entender o por quê deles quererem se matar no início do filme. Dos quatro, apenas Jess se destaca, trazendo um humor irreverente com seu papel de adolescente problemática. O personagem de Pierce Brosnan é o que mais sofre com a simplificação – o espectador pode até querer ser como ele, no fim das contas. E a solidão de Maureen, a mais tocante no livro, passa meio batido.
“Uma Longa Queda” prefere trabalhar com apenas uma chave da história desses quase suicidas: a da superação. Nesse caminho, resulta em uma obra tão alto astral que quando tenta fazer um drama no clímax, não convence, e se desenrola em um final clichê e previsível. O grupo que poderia ser tão conflituoso se limita a dar uma lição de comunhão e positividade que realmente agrada a audiência, mas que logo será esquecida.