Magia Ao Luar
Por Gabriel Fabri
O ofício de um mágico de circo é o de impressionar o público com ilusões – colocando na frente dos espectadores a magia que apenas a imaginação deles, ou no caso um bom truque, poderia criar. Esse entretenimento funciona, assim, como uma maneira de trazer um pouco de distração para as pessoas, estimulando-as a sonhar. O mesmo se pode dizer sobre o cinema, que também trabalha com a ilusão. Por isso, nada mais correto que o alter-ego de Woody Allen, diretor de “Magia ao Luar“, ser, nesse filme, o mágico interpretado por Colin Firth.
Firth é Stanley, um mágico bastante famoso do final da década de 1920. Ele se autointitula um especialista em desmascarar farsantes que se passam por videntes – cético e rabugento, ele não acredita em magia, religião e em mais nada que não possa ser cientificamente comprovado. Com ele, é ver para crer. Por isso, ele viaja para o sul da França com o objetivo de desmascarar a bela Sophie (Emma Stone), que dizem ser uma médium de verdade. Entretanto, provar que Sophie é uma charlatã se revela mais difícil do que parecia.
Allen, diretor com um currículo dos mais impressionantes, continua surpreendendo com seus diálogos afiadíssimos e a ótima direção de atores. Firth e Stone aqui brilham em seus papéis. O cômico cinismo do personagem de Firth e sua personalidade egocêntrica garantem boas piadas, enquanto a interessantíssima personagem de Stone contrabalanceia o ceticismo e a tristeza do outro e conquista rapidamente a simpatia do público com os gestos que faz para ter as suas visões.
O problema de “Magia ao Luar” é que, mesmo com todo o humor característico dos filmes do Woody Allen e as boas atuações, a trama acaba se estendendo demais, e, assim, o personagem principal perde um pouco de seu (des)encanto. A sensação é que o trabalho para lapidar os diálogos foi inversamente proporcional ao trabalho de construção da trama, cuja grande revelação soa forçada e o final fofo e irreverente não foge da sua previsibilidade. No fim das contas, “Magia ao Luar” parece um filme “mais do mesmo” na carreira de Woody Allen, sem agregar nada de substancioso.
Apesar de ser fraco comparado com muitos outros filmes recentes do diretor, como “Blue Jasmine”, “Meia Noite em Paris” ou “Tudo Pode Dar Certo”, os fãs do Woody Allen irão se deliciar com os pontos fortes do longa e toda a discussão sobre o quanto o ceticismo e a crença no místico podem ser benéficos ou prejudiciais para as pessoas. Não acreditar em magia nenhuma não é sinônimo de sanidade. E Allen deixa claro que, apesar de toda a descrença do seu personagem principal, ninguém pode viver sem algum tipo de mágica. Escolha a sua, mesmo que ela seja o próprio cinema.