Belle e Sebastian
Por Gabriel Fabri
Quem procura um filme cujos personagens principais são uma criança e um animal geralmente não pode esperar encontrar nada muito além de diversão despretensiosa e vários momentos de fofura. No longa-metragem francês “Belle e Sebastian“, dirigido por Nicolas Vanier, que chega apenas com cópias legendadas no Brasil, o público terá essa expectativa não só atingida como superada com uma bela história, adaptada do romance clássico de Cécile Aubry.
A trama se passa em 1943 na região dos Alpes na França, fronteira com a Suíça. O jovem Sebastian (Félix Bossuet) vive com o avô adotivo, à espera de que sua mãe retorne da América – região que acredita estar localizada do outro lado das montanhas. Durante os seus passeios pelas redondezas, conhece “a fera” que vem amedrontando os moradores do vilarejo. Descobre, entretanto, que o animal é uma cadela dócil, e ela logo se torna a sua melhor – e na verdade a única – amiga.
Apesar do garoto e da cadela transmitirem muita simpatia, a grande força do filme está em sua contextualização histórica, que é muito marcante e não fica em segundo plano. Isso por quê a família de Sebastian ajuda os judeus a atravessarem os Alpes para fugir do nazismo, que se mostra presente pelas constantes figuras dos soldados da SS na cidadezinha. A inocência da criança em meio à guerra acaba sensibilizando mais que os pelos brancos e radiantes de Belle ou a relação do garoto com a cadela, embora não se possa desassociar do contexto histórico o companheirismo dos dois personagens (pode-se supor que o isolamento e a solidão de Sebastian são consequências diretas da guerra).
“Belle e Sebastian” tem também uma fotografia marcante, repleta de planos abertos, que parecem estar aí para impressionar mesmo, mas que cumprem a função de realçar a dimensão de “aventura” do filme. Ao mesmo tempo, entretanto, nos lembra o quanto essa história traz apenas alguns pequenos exemplos do mal causado na II Guerra.