Deixa Rolar
Por Gabriel Fabri
Recentemente, entrou em cartaz no Brasil a comédia argentina “O Crítico”, que mostrava um crítico de cinema ranzinza que detestava comédias românticas, até que, é claro, se apaixona. Embora o cinema argentino tenha suas peculiaridades em relação ao norte-americano, é impossível não lembrar desse filme ao assistir a “Deixa Rolar” (Playing It Cool), dirigido por Justin Reardon.
Tanto o crítico de meia idade do longa-metragem argentino quanto o protagonista do filme de Reardon, o roteirista galã interpretado por Chris Evans, têm um particular desprezo pelas comédias românticas e todos os seus clichês, como a cena da corrida no aeroporto atrás de um amor que vai embora. Entretanto, nos dois filmes os personagens tem que, cada um a sua maneira, superar os seus preconceitos com o gênero: um vai ter a sua percepção sobre esse tipo de história alterada na hora de ver os filmes, o outro pode até se beneficiar no trabalho, pois, fã de filmes de ação, precisa urgente terminar o roteiro que está escrevendo.
Em crise criativa, pois não consegue escrever uma comédia romântica sem nunca ter sequer se enamorado, o roteirista logo percebe que esse é o menor dos seus problemas, quando se apaixona à primeira vista por uma mulher, interpretada por Michelle Monaghan, em um evento beneficente. Sem saber o seu nome, ele começa a frequentar todos esses eventos, a fim de um dia, quem sabe, reencontrá-la. Quando os destinos dos dois se cruzam uma segunda vez, ele descobre que ela tem namorado. Sobra o convite de sair em um “encontro de amigos”.
Narrado pelo personagem de Evans, “Deixa Rolar” usa o ceticismo desse personagem para provocar vários sorrisos na plateia, tratando os clichês do gênero com bom humor. Não chega a ser uma crítica, uma vez que o filme se assume como uma comédia romântica e usa muitos desses clichês a seu favor. Aliado ao carisma do personagem, vários recursos visuais, como colocar Chris Evans em preto e branco para destacá-lo da maioria que vive relacionamentos felizes e parece ter encontrado a pessoa certa, funcionam bem. Uma pena que o desfecho siga à risca demais o “manual” do gênero e se torne um tanto decepcionante pela sua obviedade.
Situações engraçadas, narração envolvente, recursos visuais que caem bem e um casal com química vão fazer o público concordar que comédias românticas são uma grande bobagem. O que não vai te impedir de se render, mais uma vez, a elas, e sonhar em encontrar um dia, ao acaso, a sua alma gêmea, mesmo que você nem acredite nisso.