Quarteto Fantástico

Por Gabriel Fabri

A história do Coisa, do Tocha-Humana, da Mulher Invisível e do Homem Elástico ganha uma nova adaptação nos cinemas com Quarteto Fantástico, dirigido por Josh Trank (Poder Sem Limites). Assim como em O Espetacular Homem-Aranha, a Marvel aposta em recomeçar do zero a franquia do grupo de personagens. O novo longa-metragem, entretanto, erra no clímax, mas acerta ao adotar um tom mais adulto. 
O mais interessante do novo Quarteto é resolver um problema que acomete longa-metragens como Os Vingadores – A Era de Ultron: o excesso de ação. Ao recontar a história dos personagens, o filme de Trank desenvolve com calma cada um deles, dando tempo para o público se envolver com seus sonhos, medos e anseios. Reed, o garotinho genial cujo talento não é reconhecido por ninguém; seu único amigo Ben, que fica ao seu lado após encontrar, nos experimentos na garagem de Reed, um refúgio para a relação conturbada com o irmão; Sue, a filha perfeita, adotada por Franklin Storm, seu futuro chefe e mentor; Johnny, um garoto um pouco rebelde e filho biológico de Storm.  
Muito barulho foi criado em torno desse novo grupo apresentado no longa-metragem de Trank, com a escalação de um ator negro para viver Tocha-Humana – nos filmes anteriores e nos quadrinhos, o personagem é branco. A mudança não faz realmente nenhuma diferença para a trama em si, na medida em que o racismo não é colocado como tema no filme, mas de qualquer forma é sempre positivo ver os negros ganhando mais espaço no cinema. Entretanto, mais importante do que tentar criar polêmica em torno dessa escalação (e daí que não é fiel aos quadrinhos?) é ver o que tem realmente de novo nesse Quarteto: agora, os quatros “fantásticos” não são mais jovenzinhos descolados, sex symbols em trajes ajustadinhos, com seus poderes incríveis, prontos para salvar o mundo. Acabou o glamour.  
Aqui temos quatro garotos (cinco, se for contar com Victor  Domashev, o mais rebelde do grupo de cientistas) completamente desajustados. Eles são nerds, não vão a festas, não tem relacionamentos amorosos, não fazem uma faculdade tradicional como a grande maioria dos jovens. Pelo contrário, estão sempre confinados no laboratório. Os personagens do novo Quarteto se aproximam mais então de Peter Parker antes de virar o Homem-Aranha do que, por exemplo, do time de Os Vingadores. Está aí algo que pode desagradar em cheio o grande público: nesse filme, ninguém vai sonhar com os super-poderes ou sair do cinema pensando “poxa, que legal ser o Tocha-Humana”. Pelo contrário. Nesse sentido, esse Quarteto Fantástico é muito mais frio que os antecessores – aliás, mais frio que qualquer filme da Marvel recente. Não há espaço para o humor dos outros filmes da série ou para romance, deixando o foco na realização e fracasso profissional de cada um deles e na necessidade de aprovação dos pais, ou do mentor. Essa problemática da família é o que parece conectar todos esses personagens – todos têm os seus problemas familiares, e o laboratório constitui a sua nova “casa”, para o bem ou para o mal.

Os personagens serem jovens mais reservados ou o filme ser mais frio em relação a qualquer outro filme de super-herói da Marvel – e sem a densidade de um Batman, da DC Comics, por exemplo – não é um problema. Pelo contrário, é interessante ver uma história de super-herói mais “séria”. O que enfraquece o novo Quarteto é o seu clímax desastroso. Tudo ia razoavelmente bem, até que começam frases de efeito como “você não pode mudar o passado, mas pode mudar o futuro” e o vilão é posto em ação. Oras, o longa-metragem poderia explorar um vilão fantástico em mãos – o governo dos Estados Unidos, que quer transformar os quatro em armas militares, que finge estar interessado em arrumar uma cura para as anomalias e que os torna ainda mais frustados, confinados sob uma porção de testes científicos e treinamentos militares. Sem amor, diversão, entretenimento ou ar puro. Mas, não, o quarteto tinha que salvar o mundo de alguma forma, e não é se rebelando como o público anseia. É lutando contra uma criatura risivelmente sem graça e pouco convincente, em outra dimensão. E um filme de ação que concentra a ação toda no clímax não pode entregar algo tão broxante, sem sal, quanto a luta final. Nunca salvar o mundo pareceu tão banal.

Quarteto Fantástico perde a chance de ser uma fantasia sofisticada, resultando em um entretenimento passageiro, facilmente esquecível. Há ousadia em menosprezar a ação (deixando de lado o 3D, a nova galinha de ouro de Hollywood) e em trazer um protagonista negro, mas falta um vilão à altura – tinham um, mas que foi deixado de lado, para manter a questão do fantástico, talvez, e não ficar realista ou adulto demais. Uma pena, pois a reinvenção dessa franquia se apresenta de maneira promissora, mas não conclui o que promete.

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