Horas de Desespero
Estrelado por Owen Wilson e Lake Bell, Horas de Desespero tem um começo nada promissor. Jack Dwyr chega com sua esposa e suas duas filhas para um país na Ásia, que tudo indica ser a Cambodia. Após uma tentativa de ser engraçado com um taxista que acredita ser parecido com o músico country norte-americano Kenny Rogers (Sahajak Boonthanakit), o filme apresenta a família chegando no hotel, onde nada funciona: celular, telefone, internet. Bem-vindo ao terceiro mundo? “Na verdade, aqui é o quarto mundo”, responde preconceituosamente o personagem de Wilson, sem saber exatamente o que isso quer dizer.
Famoso por seus papéis em comédias, Wilson aqui sai do seu lugar comum e se aventura em um suspense. Isso pois logo acabam as tentativas constrangedoras de Horas do Desespero ser engraçadinho e o longa-metragem decola com força. Ao sair para comprar um jornal de três dias atrás, Jack se vê no meio de um confronto entre polícia e uma milícia. Vitoriosa, a numerosa gangue segue em direção ao hotel onde a família do norte-americano está hospedada. Na porta do prédio, eles executam um outro estadunidense que estava hospedado. Começa então uma caçada aos estrangeiros, da qual Jack é um dos alvos principais – e diante desses rebeldes, nem as filhas do personagem serão poupadas, se ficarem na mira das espingardas.
Diretor do claustrofóbico Demônio e de Quarentena, refilmagem norte-americana do terror espanhol Rec, John Erick Dowdle trabalha bem o suspense do filme, diante de uma ameaça que não é sobrenatural, como nas suas obras anteriores. O ritmo é alucinante, a tensão é grande e a crueldade também. Misturando ação e terror, o filme surpreende positivamente e algumas cenas são chocantes. Como a sequência em que os quatro precisam pular de um prédio para outro para sobreviver – algo que vemos tanto em filmes de ação, aqui é tratado com o horror necessário: como um pai pode pedir para uma menina que não deve ter nem seis anos dar um salto desses? E essa nem é a cena mais tensa do filme.
No único momento em que o filme dá um descanso para o espectador, há ainda espaço para uma reflexão sobre toda a situação, impulsionada pelo personagem misterioso de Pierce Brosnan (ex-James Bond na série 007). A crítica é ao imperialismo, a dominação econômica dos países ocidentais sob os subdesenvolvidos, que inclui a exploração de mão de obra barata e o controle de recursos naturais. Na trama do filme, o caso é a água, que passaria ao controle das empresas estrangeiras. Hammond, o personagem de Brosnan, diz que os rebeldes são como o personagem de Wilson: estão lutando pelos seus filhos. Apesar desse discurso clichê, que supostamente deveria humanizar os vilões do filme. o longa-metragem é tão bem construído que essa afirmação tola logo se perde – matar todo mundo a sangue frio não é luta. Além de descarregar muito adrenalina nos espectadores, Horas do Desespero impulsa essa reflexão sobre o uso da violência por questões políticas, e também sobre o uso dela para a sobrevivência.
| Gabriel Fabri