Entrevista: Afonso Poyart, diretor de “2 Coelhos”, estreia em Hollywood
Diretor de 2 Coelhos, filme de ação estrelado por Alessandra Negrini e Fernando Alves Pinto, o santista Afonso Poyart estreia em Hollywood com o seu segundo longa-metragem, Presságios de Um Crime (Solace).
Estrelando Anthony Hopkins (Ganhador do Oscar por O Silêncio dos Inocentes), Jeffrey Dean Morgan (Grey’s Anatomy), Abbie Cornish (Robocop) e Colin Farrell (Na Mira do Chefe), o filme acompanha uma investigação para capturar um serial killer. Sem conseguir solucionar os casos de assassinatos, dois agentes do FBI recorrem à ajuda de um médico aposentado que acaba de perder a sua filha. Interpretado por Hopkins, o Dr. John Clancy tem uma habilidade paranormal, tendo visões do passado e do futuro.
Em entrevista, Poyart comenta sobre o filme que chega aos cinemas no dia 25 de Fevereiro, a experiência de dirigir em Hollywood e trabalhar com Anthony Hopkins.
Atualmente, o diretor está finalizando a produção brasileira Mais Forte Que O Mundo, sobre a vida de José Aldo, lutador de MMA.
Confira a seguir a entrevista exclusiva com o diretor:
Gabriel Fabri – Presságios de Um Crime é o seu primeiro filme em Hollywood. O que te atraiu no projeto?
Afonso Poyart – Como o 2 Coelhos tinha muita ação, era um filme muito dinâmico visualmente, os roteiros que eu recebi foram os que tinham esse componente de ação mais destacado. E o Presságios tinha uma coisa que ia além dessa questão visual, não era um roteiro que não tinha nada a dizer. É um filme com uma mensagem forte. Eu queria um balanço entre a possibilidade de fazer algo visual e algo que tivesse uma mensagem com a qual eu pudesse me identificar. Então acho que foi isso que me fez querer atrás desse projeto.
Falando nessa mensagem do filme, um diferencial de Presságios de Um Crime é que ele faz, de maneira bem interessante, uma discussão sobre eutanásia. Como você enxerga essa questão?
É uma questão muito difícil de abordar. Pessoalmente, inclusive, meu pai morreu há uma semana, isso daí está mais latente do que tudo, ele ficou dois meses indo e voltando do hospital… Então, obviamente que o filme usa esse gênero do crime thriller para fazer a discussão sobre algo que acontece na vida das pessoas de maneira muito comum. Em alguma etapa da vida a gente tem um parente que vai estar numa cama de hospital, com uma doença complexa…
É um debate da medicina, é muito difícil falar sobre isso, acho que eu não tenho e ninguém tem muita [propriedade para falar]… é que nem religião, inclusive é um assunto que flerta com a religião. Eu fico sem opinião, mas acho que tem que ser discutido mais – às vezes, o sofrimento pode ser poupado. É difícil analisar, julgar e determinar essas coisas.
Presságios chegou a ser pensado como uma sequência de Se7en – Os Sete Crimes Capitais. O filme do David Fincher serviu de inspiração de alguma forma na construção do Presságios? Você acha que os dois filmes dialogam?
Não, acho que não. O Fincher é um dos meus ídolos, então claro que ele influencia. Mas no caso do Presságios, falaram nele ser uma sequência do Se7en, que era inclusive para o Fincher dirigir, mas isso era um outro roteiro, uma outra história.
David Fincher também foi diretor de videoclipes. Como a sua experiência com essa produção aparece no filme?
Eu dirigi mais publicidade do que videoclipe, na verdade. O que me ajudou é a experiência de filmar. Um longa-metragem você faz a cada dois anos, e publicidade você está filmando alguma coisa a cada dois meses. Você fica mais rápido para gravar, desenvolve mais habilidade no set. Na parte estética também. A publicidade tem uma preocupação muito grande com o frame a frame, é um olhar muito detalhista, e eu acho que adquiri isso e tento trazer isso para o cinema, ter uma “chatice visual”, ser meticuloso com isso.
O 2 Coelhos foi um filme que você, além de dirigir, escreveu e produziu. A gente sabe que trabalhar em Hollywood tem toda uma dinâmica própria. Como foi essa experiência de filmar fora e com um elenco cheio de grandes nomes do cinema?
Acho que todo filme te ajuda a evoluir. Sempre o seu próximo filme tem que ser melhor que o anterior, teoricamente. Você tem mais habilidade para tocar as coisas. Mas foi algo muito novo para mim, e o mais difícil foi fazer um filme que eu não escrevi e não participei do desenvolvimento desde o início, ele veio muito antes de mim. É um tipo de conexão diferente. Eu prefiro trabalhar com coisas com as quais eu me envolvo desde o começo. Fui contratado para dirigir, mas os produtores me deram muita liberdade, o Presságios tem uma assinatura que é minha. Eu diria que ali tem 70% um filme meu, e o resto foi negociado.
Como você define o seu estilo de filmar, essa sua marca?
É algo difícil de definir com palavras, mas eu me interesso muito por desconstrução da linearidade – gosto muito disso, acho que é assim que o cérebro funciona. Gosto de tramas que se revelam. Eu curto trabalhar com essa surpresa.
O que foi mais desafiador nesse projeto?
É tanta coisa, cara… A questão da língua foi difícil, apesar de eu falar inglês, porque no mundo do cinema dialogar com atores e com a equipe é complexo, mesmo em português. Ter que falar isso em outro idioma é uma dificuldade a mais. Tive que aprender também como esses atores funcionam, eles têm um ponto de vista muito forte. O Hopkins estava um pouquinho com o pé atrás comigo, mas devagar ele foi vendo que eu não sou um mau gosto completo (risos). Mas é normal essa desconfiança, eles não sabem direito quem é o diretor, tinham visto o 2 Coelhos e aprovado a escolha, mas é no dia-a-dia que a gente vai se conhecendo. O que mais? Lidar com os atores, falta de dinheiro… as dificuldades são enormes! (Risos).
Quando vi nos créditos o Anthony Hopkins como Produtor Executivo eu pensei: “Nossa, ele deve ter dado muito trabalho” (risos).
Na verdade é um crédito de produtor porque ele deu uma parte de seu cachê para receber depois, fez um “deferimento do cachê”, e de certa forma ajudou a financiar envolvendo o nome dele no projeto. Não significa que ele toma decisões, ele nem participou da edição, nada disso. Esse título de Produtor Executivo, em Hollywood, às vezes é atribuído a alguém que auxiliou de alguma forma a produção. É um cargo bem flexível. Às vezes é um ator que entrou por um preço menor, e por aí vai.
O que você aprendeu com ele?
Eu aprendi o poder de uma estrela. Ele realmente tem um poder muito grande na tela e que tem que ser valorizado. A gente, como diretor, acha que tem outras coisas que precisam de mais urgência na hora de fazer um filme, mas às vezes o que precisa é que os atores sejam bem cuidados, que eles tenham um ambiente positivo para poderem realmente desenvolver a arte deles. Essa conexão emocional dos atores com a plateia é uma coisa importante que o Hopkins consegue fazer, dentro do seu estilo próprio. Eu sempre valorizei, mas aprendi a valorizar mais ainda o ator.
E também o poder do diretor junto com o ator. Acho que os grandes times são feitos sempre assim. Você vê o Leonardo DiCaprio com o Alejandro González Iñárritu (em O Regresso) ou mesmo o Fincher com os atores de Clube da Luta, o Edward Norton e o Brad Pitt, os três se uniram inclusive para brigar pelo corte do filme. Essa ligação do diretor com os atores é muito importante – é um time criativo, não existe um sem o outro. Se o diretor ignora o poder dos atores, o filme fica uma bosta (risos).
Você é Produtor Executivo do remake de 2 Coelhos. O que podemos esperar dessa refilmagem?
Está vendo! Esse é um exemplo do título de Produtor Executivo (risos). Está em desenvolvimento já, o roteiro está em segundo tratamento. O produtor é o Andrew Lazar (Sniper Americano, dirigido por Clint Eastwood). Não é o mesmo filme, mas tem muita coisa dele. Acho que vai ser algo bem mais aberto para o mercado mundial e para o norte-americano. Simplificaram um pouco a trama, pois o 2 Coelhos é um filme que demanda uma atenção, e acho que essa versão vai demandar menos. Mas parece que vai ficar muito legal. Estou torcendo para que consigam fazer o filme.
Você pretende continuar filmando em Hollywood?
Sim, tenho um agente lá que está me mandando coisas para ler. Mas eu quero buscar algo que eu possa desenvolver, que esteja em um estágio anterior, ou que pelo menos eu possa ter uma conexão muito forte. Porque também não vale a pena entrar em qualquer coisa, né?
| Gabriel Fabri
Eu quero muito ver presságios de Crime, parece ser um ótimo suspense!
Adorei a entrevista, achei chique! rsrsrsrs
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