O Conto dos Contos
Não é todo dia que contos de fadas italianos ganham adaptações para o cinema com o alcance internacional de O Conto dos Contos (Il Racconto dei Racconti), falado em inglês e estrelado por Salma Hayek. Diretor de Gomorra, Matteo Garrone assume a direção desse filme que intercala três fábulas, retiradas do livro Pentamerone (ou Lo cunto de li cunti overo lo trattenemiento de peccerille), obra que reúne uma série de contos populares do século XVII coletados por Giambattista Basile.
Uma rainha (Hayek) não consegue engravidar e recorre a um estranho feiticeiro. Esse senhor pede que ela coma um coração de um monstro do mar, cozinhado por uma virgem. O problema é que tanto ela quanto a virgem engravidam, dando luz a gêmeos. Dezesseis anos depois, a rainha, com ciúmes da proximidade dos dois garotos, vai tentar separá-los.
Enquanto isso, um rei muito dependente de sua filha ganha um animal de estimação: uma pulga que vai crescendo até se tornar uma besta. Como a sua filha está louca para se casar, e o monarca é relutante a essa ideia, ele propõe um desafio: após a morte de seu animal, o inseto é esfolado e, quem adivinhar de que bicho é a pele, se casa com a garota. O problema é que um homem das cavernas – literalmente! – reconhece, pelo cheiro, que aquela pele gigante é de uma pulga.
Por fim, a mais interessante das histórias é a de um rei que escuta uma voz fina cantando e se apaixona – sem se dar conta de que se tratava da voz de uma velha senhora. Diante da insistência em vê-la, ela, que nunca sai de casa, propõe uma noite de amor às escuras, para que façam sexo sem que ele possa enxergá-la.
Embora o longa-metragem tenha bons momentos, O Conto dos Contos não sabe explorar o potencial de suas histórias. Essa dificuldade está clara desde o começo da projeção, quando acontece o assassinato do monstro do mar, uma cena completamente sem emoção e mal aproveitada. E piora: o desenvolvimento dos personagens e das situações são longos demais e não chegam a lugar algum – ou melhor, chegam a um desfecho preguiçoso que tenta amarrar, sem sucesso, as três histórias. Apenas o conto da princesa casada com o homem das cavernas ganha um clímax satisfatório. O resto patina na falta de ousadia e de criatividade do filme – sim, por mais que tenha um peitinho ali e uma cena violenta acolá (o que não configura em si uma ousadia pensando que esse longa-metragem é para adultos), faltou brincar com as três histórias, misturando, explorando as diferenças entre elas, ao invés de juntar três filmes ruins em um só.
| Gabriel Fabri