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Entrevista: Em “Mate-me Por Favor”, garota de 15 anos procura a morte para se sentir viva - Pop with Popcorn

Entrevista: Em “Mate-me Por Favor”, garota de 15 anos procura a morte para se sentir viva

Premiada como Melhor Atriz no Festival do Rio 2015, Valentina Herszage fez sua estreia nos cinemas aos 15 anos em Mate-me Por Favor, primeiro longa-metragem de Anita Rocha da Silveira. Exibido também no Festival de Veneza, de onde saiu com o prêmio da crítica independente Bisatto D`Oro pelo conjunto das atuações, o filme chega ao circuito comercial nesta quinta feira, 15 de setembro.

Em entrevista exclusiva, Valentina fala sobre a cena que para ela foi a mais desafiadora do filme, em que beija uma mulher a beira da morte; o processo de preparação para o papel; e o que incorporou da sua adolescência para viver Bia, a protagonista desse suspense que acompanha a vida de quatro amigas adolescentes que estudam em um colégio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Completam o elenco Dora Freind, Julia Roliz, Mari Oliveira e Bernardo Marinho.

Confira a entrevista completa:

Valentina na pré-estreia do filme em São Paulo (Foto: Ali Karakas)
Valentina na pré-estreia do filme em São Paulo (Foto: Ali Karakas)

Essa foi a sua estreia no cinema e você já foi premiada no Festival do Rio e em Veneza. Qual é a sensação?
É indescritível. Eu nunca imaginei que isso fosse acontecer, mesmo! Todas as vezes que eu ganhei o prêmio fui pega completamente de surpresa. Eu acho que tem um pouco a ver com ser um filme tão difícil, e hoje estou com dezoito, mas eu fiz com quinze anos o filme e acho que isso salta aos olhos um pouco, as cenas difíceis e tudo mais.

E olhando para trás você percebe hoje coisas que podia ter melhorado na sua atuação?
Com certeza. Eu continuei, estou fazendo faculdade de artes cênicas, então agora estou realmente estudando. Na época tinha uma coisa que eu acho muito rica e hoje até sinto um pouco de falta, que é essa espontaneidade. E como eu tinha a mesma idade da personagem, muitas situações ali eram naturais, tirando certos episódios, a maneira como a Bia se comunica, as amizades femininas, alguma coisa ali eu reconhecia.

O que foi mais desafiador no processo de construção da sua personagem?
Acho que foi tentar me situar e habitar um pouco esse lugar da Bia, esse lugar impulsivo, curioso. Por exemplo, a cena da menina morta foi uma cena muito difícil para mim, porque é uma situação que eu, Valentina, acho que nunca viveria. A gente teve três meses de preparação e nesse tempo a gente começou a estudar isso, que desejo é esse, em que lugar está isso, o que faz ela ir, que desejo físico é esse? Então acho que o mais difícil foram esses momentos em que tem coisas que eu nunca faria, mas a Bia faria totalmente.

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A cena da menina morta foi então a mais difícil para você?
Sim, não só pelo conteúdo da cena, mas a gente gravou em Curicica (bairro da cidade do Rio de Janeiro), tava 45 graus, muito calor. A menina veio da Argentina, estava passando mal, então foi muito cansativo. Eu lembro até que quando acabei de gravar, cheguei em casa à noite, eu fiquei doente, estava com muita febre, fiquei mal e não conseguia me mexer. Essa transição de sair da personagem depois dessa cena foi muito difícil. Assim que eu saí da cena, meu corpo sentiu, então acho que foi a mais difícil.

O que você trouxe da sua experiência como adolescente para a personagem?
Acho que o que ajudou muito foi o roteiro da Anita ser muito fiel ao que nós somos. E as meninas e eu estávamos sempre falando “não, a gente não fala desse jeito, a gente fala isso”, mudamos várias gírias, então a gente tentou junto com a Anita naturalizar mais para os jovens de hoje em dia. Então a gente pôde trazer muito desse diálogo do desejo com a curiosidade, as amizades, o namorado, acho que tinha muito de mim mesmo tentando aumentar esse ambiente jovem.

A Anita pediu para vocês assistirem alguns filmes antes de gravarem, como As Virgens Suicidas, da Sofia Coppola, e Paranoid Park, do Gus Van Sant. O que você incorporou na sua atuação desses exemplos?
Uma estranheza dos personagens, uma coisa muito humana, acho que foi o que eu peguei. Durante o processo de preparação eu vi também filmes da Isabelle Adjani (atriz francesa, protagonista de A História de Adèle H., de François Truffaut). A gente viu Possessão (de Andrzej Zulawski, estrelado por Adjani), junto com a preparadora Ana Kutner, e notei uma certa estranheza mas que tem um lugar muito humano também, não é um lugar completamente estranho em que você não se identifica. É um lugar que você fala “isso é estranho, mas eu sinto isso também, também tenho essas vontades”. Então tem até um pouco a ver com essa profissão de atriz, de uma coisa que dá muito medo, mas que tem que fazer, uma coisa que grita. Acho que a Bia tem um pouco disso e esses personagens também. O filme Possessão foi um guia para mim e depois eu fiquei viciada na Isabelle.

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Como você interpreta essa aproximação de morte e desejo da sua personagem?
Eu acho que é uma linha muito tênue, acho que é uma coisa dela estar sempre querendo testar que ela está viva, mesmo que isso seja talvez a própria morte. Tanto que no final do filme ela vai atrás da morte, mas não como um fim, pelo contrário, para se sentir viva. Então acho que tem um desejo de sentir essa morte como uma pulsação de vida mesmo.

Quais desafios de ser mulher e ao mesmo tempo ser jovem na nossa sociedade você acha que a sua personagem – e das suas colegas também – representam?
Acho que cada relação representa um pouco disso. A relação com o namorado me traz uma potência muito grande para a personagem feminina. É ela que dita ali o que ela quer. Quando ele diz que acha que eles não deviam ter feito sexo, ela faz um charme, diz que devia ter feito sim. Ela segue muitas vontades. Também tem uma coisa da amizade feminina, até na cena do banheiro da Renata (Dora Freind) e da Mari (Mariana Oliveira), tem uma certa provocação, mas ao mesmo tempo uma amizade muito grande, de confiança.

| Gabriel Fabri

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