Festa da Salsicha

A premissa da comédia Festa de Salsicha (Sausage Party), dirigida por Conrad Vernon e Greg Tiernan e que tem entre os produtores e roteiristas o ator Seth Rogen, é boa. Uma espécie de Toy Story para adultos, que se passa em um supermercado. Os produtos, entre eles um pacote de salsichas e uma embalagem de pãozinho de hotdog, sonham com o dia em que serão levados de lá pelos humanos, a quem chama de deuses. Eles não sabem que serão comidos, fatiados ou descascados por aqueles “gigantes”.

O mais interessante da comédia é que, uma vez que humanos não compram produtos com a embalagem violada, os pãezinhos não podem sair de seus pacotes para se abrir para as salsichas. O paraíso representa, portanto, uma liberdade que é acima de tudo sexual. O que mais querem os alimentos é transar, transar e transar e os gigantes representam, para eles, a chave para esse universo sexual – os humanos, diga-se de passagem, também exercem uma atração sexual nos alimentos, e até em outros tipos de produtos, como no caso da ducha íntima que é vilã do filme.

O cunho sexual está muito presente nas piadas, pouco criativas, que explora esse desejo reprimido dos alimentos por meio da linguagem chula e de insinuações que muitas vezes mais constrangem do que provocam o riso. Depois de um certo tempo, a repetição cansa, e a simplicidade da história não ajuda – mesmo que tenha alguns momentos bem criativos. Na trama, um casal apaixonado, uma salsicha (Frank, dublado por Seth Rogen) e um pãozinho (Brenda, dublada por Kristen Wiig), acompanhados de um pão judaico e outro árabe (em uma tentativa de problematizar com humor a questão Israel e Palestina), estão perdidos no supermercado. Após o suicídio de uma mostarda com mel, que ao ser devolvida denunciou que o tal “paraíso” não existe, Frank irá tentar descobrir se há verdade nas acusações do condimento suicida. Os humoristas do grupo Porta dos Fundos fazem a dublagem em português – no elenco estão Antonio Tabet, Gregorio Duvivier, Fábio Porchat, Thati Lopes, entre outros.

A linguagem é adulta, a temática sexual também, mas o filme não escapa de deixar uma mensagem para as crianças que existem em cada espectador maior de 18 anos: primeiro, a aceitação, tanto do corpo, quanto da sexualidade, e também das diferenças (o que faz a questão Israel-Palestina não parecer deslocada do todo); e, segundo, a da liberdade de cada corpo. Nesse último argumento, está a questão da religião. Festa da Salsicha claramente tira sarro de movimentos na linha do Eu Escolhi Esperar e também das religiões que condenam ou tentam reprimir o sexo e a sexualidade. A única justificativa, uma vontade divina, o suposto pecado imposto ao prazer ao longo de milênios. Não à toa, o momento mais feliz da animação é uma orgia, onde rola de tudo.

Festa de Salsicha levanta questões interessantes, mas não funciona como comédia. É exagerada, repetitiva, e muitas vezes soa um tanto idiota. Como, por exemplo, ao colocar os alimentos para fumarem maconha, como se isso pudesse ser engraçado (o resultado passa longe disso, e a salsicha se recupera muito rápido da “viagem”). Ou pior: quando passa uma mulher bonita humana no supermercado, e o caixa, o personagem mais esquisito da trama (sim, o personagem mais esquisito não é uma das salsichas), fala: “nossa, que MILF!” (gíria em inglês que significa “mãe que eu gostaria de transar”). E ela adora. Era para isso ser engraçado? E são piadinhas assim que vão testando a paciência da plateia. O problema não é ser politicamente incorreto o humor – o problema é que, muitas vezes, não tem graça nenhuma. Para piorar, os personagens pouco cativantes não ajudam e, assim, os 80 minutos passam bem devagar.

| Gabriel Fabri

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