No Fim do Túnel
O que você faria se descobrisse que bandidos estão cavando um túnel debaixo de sua casa? E se, por acaso, descobrisse que a pessoa que mora com você está, de algum modo, envolvida com isso? São essas as questões que o protagonista de No Fim do Túnel tem que se deparar no longa-metragem argentino dirigido por Rodrigo Grande. Embora não aproveite muito bem os seus personagens ao longo da projeção, o suspense ganha o espectador com um clímax surpreendentemente bem amarrado e com toques de humor.
Joaquín (Leonardo Sbaraglia) é um homem solitário que perdeu a sua família em um acidente de carro. Além das sequelas emocionais, ele ficou paralítico. Vive sozinho com o cachorro doente, que planeja sacrificar. Tudo muda quando, sem mais nem menos, uma mulher e sua filha chegam desesperadas para alugar um quarto que ele tem vazio em sua casa. Ele logo começa a ficar interessado em Berta (Clara Lago), que trabalha como stripper. Entretanto, em seus momentos solitários no porão, ele escuta alguns barulhos suspeitos na parede – e começa a observar e escutar os passos dos bandidos ao lado.
O problema de No Fim do Túnel é que é um tanto difícil se envolver com os personagens. Como aquele homem na cadeira de rodas pode ser tão astuto e corajoso? Porque diabos ele tem tantas câmeras e microfones na sua casa? Joaquín parece às vezes um super-homem na cadeira de rodas – a sua dor é pouco explorada. A relação dele com Berta também é mal desenvolvida: como ele não desconfia dela, com o modo abrupto que ela apareceu? Ele não achou nem um pouco suspeita a dança sensual que ela fez para ele? Porque ele faz tudo por ela mesmo quando descobre que ela está escondendo algo?
A sensação é que essa relação de Joaquín e Berta deveria ter sido mais aprofundada. Não é uma relação banal, afinal, envolve até medidas extremas, mas a sensação é de que falta algo aí que torne crível todo o esforço mirabolante que Joaquín faz por ela. De bom mesmo, estão as situações envolvendo a filha de seis anos da stripper, que torna duas cenas específicas muito mais interessantes. São dois pontos altos do filme, em que a menina está em real perigo. O público sabe que Joaquín vê naquela menina a filha que perdeu, mas, de novo, parece que falta algo aqui para tornar essa conexão mais intensa.
Com essa frágil conexão entre os personagens, No Fim do Túnel se resume a um suspense satisfatório, divertido e até que bem dirigido. O clímax é muito bom, principalmente por dar importância a detalhes que o público poderia julgar como irrelevantes, como o nome dos bandidos do outro lado. Mas os temas mais humanos, como a relação entre essa nova “família” que se forma naquela casa, ou mesmo a relação de dependência entre Berta e o líder dos bandidos, que poderia suscitar alguma reflexão sobre o machismo ou sobre relações abusivas, por exemplo, passam um tanto batido.
| Gabriel Fabri