Sete Minutos Depois da Meia-Noite
O início de Sete Minutos Depois da Meia-Noite (A Monster Calls), filme de J. A. Bayona (de O Impossível) baseado no romance de mesmo nome de Patrick Ness, promete uma aventura bastante infantil, seguindo a linha das versões mais conhecidas dos contos de fadas. Com roteiro do próprio autor do livro, o longa-metragem fala, afinal, sobre um garoto que conversa com uma árvore. Entretanto, o filme surpreende a ir bem mais fundo que isso, discutindo as maneiras de lidar com o luto, com uma abordagem para crianças, mas que não deixa de ser algo intenso até para os adultos.
Na trama, Connor (Lewis MacDougall) sofre ao assistir a sua mãe (interpretada por Felicity Jones) fazendo um tratamento para combater o câncer. De noite, o garoto tem pesadelos. Na escola, sofre bullying e não tem um amigo sequer. Em casa, tenta manter acesa a esperança de que a mãe melhore, enquanto resiste a passar tempo com a sua avó (Sigourney Weaver) nos dias em que a matriarca vai para o hospital. Ele ainda lida com o repentino retorno do pai ausente, um sinal de que a saúde da mãe está piorando. Não é uma realidade legal, e o único refúgio para esse garoto triste são o lápis e o papel para desenhar. Até que a árvore em frente a sua casa se transforma em um gigante.
E, bom, se o mais óbvio seria pensar que o tal gigante levaria o garoto para um mundo de aventuras desconhecidas, a trama vai para um outro caminho. A árvore afirma que vai apenas contar três histórias, e ao final da terceira, o garoto seria obrigado a contar uma quarta: a dos seus pesadelos. As histórias do gigante, que recebem um visual de aquarela (os únicos momentos coloridos do filme, que tem uma fotografia com cores pesadas, como um filme de horror em casas vitorianas), são bastante peculiares: a primeira, por exemplo, fala de um rei assassino que prosperou feliz para sempre. Não é bem a fábula que se espera encontrar em um filme para as crianças.
Bayona opta aqui por não suavizar a história, conversando francamente com o público, especialmente as crianças, sobre o luto, ou melhor, sobre a proximidade da morte. Está claro, pela construção da narrativa, que a mãe de Connor é a única coisa que ele ama, ou que lhe dá carinho e atenção. O que torna a morte hipotética dela muito mais difícil, e esse processo todo de luta contra o câncer também. Na árvore (e, consequentemente, na fantasia), Connor encontra as forças para manter a esperança de pé. Mas só isso não basta, e não há muito o que ele fazer. Em suma, o longa-metragem fala abertamente sobre a proximidade da morte, misturando dor e fantasia e, assim, surpreende pela sua franqueza, ao trazer temas de certa forma tabus no cinema voltado para os mais jovens.
| Gabriel Fabri