Fome de Poder

O McDonalds, junto com a Coca-Cola, talvez seja o maior símbolo capitalista do mundo. Um símbolo, também, dos Estados Unidos, quiçá de todo o mundo globalizado e sua busca por “eficiência” e prazeres instantâneos. Sob direção de John Lee Hancock, o longa-metragem Fome de Poder (The Founder) conta a história de como um simples restaurante se tornou um império. Com êxito, vai além de narrar a trajetória de um empreendedor, ao detalhar os meandros e armadilhas do mundo capitalista, ao mesmo tempo em que retrata como a ambição e o individualismo, talvez os mais importantes pilares sociais ocidentais, podem cegar uma pessoa quanto à humanidade das outras.

O título original, que significa “O Fundador”, é brilhante e irônico. Pois é assim que Ray Kroc (Michael Keaton) irá se auto-intitular no futuro. Entretanto, ele começa como apenas um fracassado vendedor que bate de porta em porta vendendo cada vez um produto inútil diferente. Ele encontra um restaurante chamado McDonalds, que pertence a dois irmãos nada ambiciosos que criaram um sistema diferente para preparar a comida com rapidez. Kroc, então, propõe uma parceria para iniciar uma rede de franquias.

O roteiro expõe as dificuldades de se começar um novo negócio. Mesmo com alguns restaurante da rede estabelecido, Kroc tem que hipotecar sua casa e arcar com custos e variáveis um tanto imprevisíveis. Ele também tem que lidar com um empecilho: os irmãos Donalds são conservadores em relação a qualquer mudança em seu modelo de restaurante, impedindo bons negócios, como um patrocínio da Coca-Cola, e assim dificultando a vida de Kroc. Eles também não o ajudam em nada com a expansão da rede. Como já era de se esperar, uma hora o homem teria que se livrar ou dos sócios ou de seu negócio.

Com uma narrativa instigante e uma hipnotizante interpretação de Keaton, o público é colocado em uma encruzilhada, uma vez que o assunto é muito mais delicado do que parece. O roteiro é hábil em jogar toda a sujeira do protagonista para o final, mostrando que, até certo ponto, mesmo querendo se livrar dos irmãos, o homem estava disposto a jogar limpo. Até aí, o filme retrata com um certa admiração a trajetória de Kroc e a sua persistência, considerada a chave para o seu sucesso. Uma vez que torcemos para o personagem conseguir expandir a franquia, mas com uma resolução que contemplem os verdadeiros fundadores do restaurante, o longa-metragem deixa para o final a frustração, mostrando um homem pequeno por trás de um grande empreendedor.

Por Gabriel Fabri