Minha Fama de Mau – Crítica
Quem vê roqueiros destilando todos os tipos de preconceitos musicais na internet, pode até se esquecer do quão perseguido foi o Rock and Roll em suas origens. Em seus primórdios, na década de 1950, o som de Chuck Berry e Elvis Presley era marginalizado e causava histeria na classe média conservadora estadunidense. Quando chegou ao Brasil, mais ou menos uma década depois, o gênero também não foi bem recebido: a crítica musical o acusava de ser raso e alienante, algo menor diante Bossa Nova e da música de protesto dos festivais. Acima de tudo, diziam que o era uma moda passageira.
A conduta e o caminho que foi seguido por alguns dos protagonistas da Jovem Guarda pode até confirmar tal tese. Porém um nome se manteve fiel as raízes: Erasmo Carlos, o homenageado no longa Minha Fama de Mau.
Além de ser sobre um dos primeiros roqueiros brasileiros, o filme é também uma homenagem que o diretor Lui Farias presta ao seu pai, Roberto Farias, realizador da trilogia dos filmes protagonizados por Roberto Carlos.
Ao sabermos desses fatos, poderíamos esperar que a obra fosse uma santificação de Erasmo e seus amigos, porém na verdade é uma produção divertida e sensível sobre a trajetória do cantor carioca.
Minha Fama de Mau começa na periferia do Rio de Janeiro, onde conhecemos o protagonista (Chay Suede), que se divide entre a admiração por Elvis e Bill Haley, e pequenos crimes e golpes. Nesse primeiro ato do filme a direção utiliza inserções nostálgicas, que remetem as revistas da década de 1950 e 1960, e também quebras da quarta parede que remetem a Martin Scorsese e a O Lobo de Wall Street (2014). Se tais técnicas foram utilizadas para dar graça e leveza ou para sequestrar a atenção e o interesse do público, funciona para ambos os fins.
A realidade de Erasmo começa a mudar quando conhece Roberto Carlos (Gabriel Leone), já ídolo adolescente naquela época. O primeiro contato acaba se desdobrando em uma amizade, o que o insere no mundo do show business e o transforma no secretário do produtor e radialista Carlos Imperial. Após fazer “mau uso“ do cargo, acaba sendo demitido, porém, agora com contatos, consegue assinar um contrato com uma gravadora.
Farias consegue conduzir muito bem a primeira metade do longa, introduzindo piadas e criando um clima de festa generalizado, principalmente na construção do auge da Jovem Guarda, o icônico programa exibido pela Record no fim dos anos 1960.
As atuações também são um mérito para o filme. Apesar de não haver interpretações memoráveis, o trio Erasmo, Roberto e Wanderléa (Malu Rodrigues) tem carisma e consegue cativar os espectadores. Já Bianca Comparato, com participações pequenas e interpretando diversas personagens, consegue roubar a cena, combinando força, sensualidade e doçura.
Já na segunda metade da obra, acompanhamos a decadência da Jovem Guarda, e junto com ela, de Erasmo Carlos. Os enquadramentos e a fotografia mudam, dando um tom mais desorientado e sombrio. O trabalho de maquiagem também é notável, personificando bem os vícios e o alcoolismo. Escuridão que não dá o tom nos momentos finais do filme, onde vencem a superação e a conciliação.
Minha Fama de Mau é mais um da já extensa lista de biografias de músicos e cantores brasileiros, carregando todos os elementos desse subgênero. Porém o atrativo está nas qualidades adicionais que carrega, utilizando recursos que ilustram bem as várias fases da vida do cantor, sem medo de expor os seus fantasmas.
Uma recomendação: leve os seus avós, pais e tios ao cinema. Se eles não forem cativados pelo enredo, serão pela nostalgia.
Por Caio Ramos Simidzu
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