Zama (41ª Mostra)
Um dos nomes mais importantes do cinema argentino, Lucrecia Martel (Menina Santa e A Mulher Sem Cabeça) demorou nove anos para viabilizar Zama, representante da Argentina no Oscar 2018. Adaptação do romance de mesmo nome de Antonio Di Benedetto, o filme, ambientado no século XVIII, conta a história de um funcionário da coroa espanhola que aguarda há anos uma transferência de cidade.
Tendo como pano de fundo um cenário de escravidão de negros e de índios, o longa-metragem promove uma reflexão sobre aparências e sobre o “ele disse que”, em suma, sobre o poder da comunicação, nem sempre usada para contar verdades. Daniel Giménez Cacho vive o personagem que dá nome ao filme, um oficial iludido com a possibilidade de ser transferido – e a transferência nunca vem, porque os seus interesses não são prioritários, obviamente. Na cidadezinha onde vive, ele hesita entre viver como um herói que supostamente matou Vicuña Porto, uma espécie de vilão local, e contar que não teve nada a ver com isso. O brasileiro Matheus Nachtergaele integra o elenco.
A sensação do personagem de que está sendo enrolado pela coroa espanhola pode encontrar ecos no espectador do filme, uma vez que o longa-metragem tem um ritmo lento e uma trama para lá de desinteressante – o que não deixa de ser uma maneira de aproximar o público do protagonista. O cuidado minucioso em recriar uma época é positivo, mas o roteiro esquece de criar subtramas para manter o interesse do público naquele ambiente. Por quê, afinal, o oficial quer tanto sair daquela cidade? É uma pergunta com respostas vagas, e que prejudica o envolvimento do espectador com Zama. Preocupado demais com as engrenagens da coroa espanhola, o filme esquece de trabalhar o envolvimento com os seus personagens – e coadjuvantes como o homem que escreveu um livro proibido e a senhora deseja por todos parecem não somar muito à narrativa.
Por Gabriel Fabri
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