Como Eu Era Antes de Você
No best seller de John Green, A Culpa é das Estrelas, a protagonista Hazel (que nos cinemas foi interpretada por Shailene Woodley) tem uma frase memorável: “Você me deu a eternidade em dias contados”. Trata-se da história de um casal de jovens com câncer terminal e que vivem um grande amor enquanto ainda respiram. A frase vem à tona ao pensar em Como Eu Era Antes de Você, filme dirigido por Thea Sharrock, baseado no livro de mesmo nome de Jojo Moyes, cuja única semelhança está na questão dos dias contatos. É também um romance, mas uma história menos idealizada do que se esperaria de uma obra de Hollywood com tamanho apelo comercial.
Louisa Clarke (Emilia Clarke, da série Game of Thrones) é uma garota que procura emprego para ajudar as finanças da família. Ela acaba sendo contratada para cuidar de Will (Sam Claflin, de Simplesmente Acontece), um jovem que, após ser atropelado, fica tetraplégico – ou seja, que perdeu para sempre os movimentos abaixo do pescoço por conta de uma lesão na medula óssea. Desiludido com a sua nova rotina, Will tomou a decisão de acabar com a sua vida, e tem data marcada para fazer um suicídio assistido. Louisa, entretanto, acha que pode fazê-lo mudar de ideia e tentará de tudo para animar o garoto.
O fato é que, se essa sinopse poderia render um filme bem baixo astral, não é esse o tom que a diretora, estreante em longa-metragem, decide imprimir. Ao contrário, o filme é cheio de momentos deliciosos, engraçadinhos e delicados. Como Eu Era Antes de Você é uma graça e grande parte desse feito merece ser creditada à cativante interpretação de Emilia Clarke, que construiu uma personagem encantadora. Clarke também faz um bom par com o sereno e às vezes mau humorado Sam Claflin – o casal tem química. O roteiro é bem amarrado e deve agradar aos fãs do livro, uma vez que é assinado pela própria autora.
Como Eu Era Antes de Você trata de um tema polêmico, a eutanásia. Pior: o suicídio assistido em debate é o de uma pessoa que, embora esteja com alguns problemas de saúde, não é um doente terminal, não está em coma ou em estado vegetativo. É uma questão complicada e que vai borrar os limites da razão e do emocional do público – algo um tanto ousado, convenhamos, ainda mais porque o assunto vem sem discursos morais contrários a essa ação. Mas o filme trata desse tema com leveza e consegue, em suma, cumprir o que promete: uma obra simples, sim, mas que encontra beleza nessa simplicidade. O resultado é emocionante e também melancólico. E o curioso é que, independente de Louise ser bem sucedida ou não ao final do filme, se Will vai colocar o ponto final na sua vida ou não, Como Eu Era Antes de Você é, de um jeito ou de outro, uma celebração da vida. E faz isso sem ser piegas, maniqueísta, contraditório ou nada que mereça uma hashtag em protesto.
| Gabriel Fabri