A Fera
O mundo é dos mais bonitos? Aparência é o que mais importa nos dias de hoje? Vale a pena viver por ela? E quem não a tem, como vive? Num mundo em que as aparências enganam, mas ainda parecem cativar mais que a personalidade, surge A Fera (Beastly) para dizer (mais precisamente tentar dizer) que o que importa é a beleza interior, mas acaba mostrando apenas que existe muito além de um rostinho bonito.
Na trama, Kyle Kingson (interpretado por Alex Pettyfer, de O Preço do Amanhã e Eu Sou o Número 4) é um filhinho de papai desprezível por sua atitude egoísta, convencida e, de certo modo, canalha. No seu discurso para uma eleição boba em seu colégio, ressalta a importância de ser bonito, rico e popular para conseguir tudo o que quer na vida (inclusive o voto dos colegas que supostamente o idolatram). Ao provocar a “bruxa” do colégio (Mary-Kate Olsen, bonita apesar do visual Lady Gaga) e humilhá-la em público, é amaldiçoado com uma aparência de “monstro” e deve encontrar alguém capaz de amá-lo como ele mesmo em um ano, ou se tornará assim para sempre. Mas logo no dia que isso aconteceu, ele conhece Linda Taylor (Vanessa Hudgens) e logo ele verá no bom coração dela a sua chance de voltar ao normal.
Nessa versão moderna de A Bela e a Fera, Kyle representa o pior tipo de pessoa egocêntrica e convencida de atualmente. Para passar a mensagem de que as aparências não importam realmente, recebemos uma visão pessimista, mas que não deixa de ser correta, do mundo atual e da importância que a beleza tem. Quando Kyle fica feio (sem deixar de ser mu$culoso, claro), sua aparência é o seu interior, como no filme O Amor é Cego. O diretor esfrega na cara do público o que está por trás daquele rostinho hollywoodiano: ponto positivo para o filme. E logo vemos as consequências imediatas: a não aceitação do pai, o isolamento etc.
Até aí, o filme até que caminha bem. Entretanto, ele desanda com o início do relacionamento de Linda e Kyle. Primeiro, pela história pouco convincente que a deixa sob os cuidados do outro. E depois, o desenrolar da história até que é fofinho, mas culmina num desastroso desfecho, mais previsível impossível. Tal desfecho expõe a falha no argumento central: no final, tudo isso foi um filme de redenção, de segundas chances, deixando a mensagem que suporta o oposto do que estava se tentando dizer: beleza realmente importa.
A Fera não é de todo perdível. É uma historinha de amor meio boba e muito clichê, mas válida, falha no argumento principal, mas nos lembra da importância que uma segunda chance pode ter e que todos podemos mudar (um pouco). E o melhor: de um observador mais atento, pode se tornar, junto até com as suas falhas, um retrato da sociedade atual e sua obsessão pela beleza. Os coadjuvantes, o cego e a empregada, têm papel de peso para tornar o filme aceitável. De tudo, o que merece mais destaque é a trilha sonora pop, que foi de Natalie Kills à Pixie Lott (outra pequena falha: nenhuma música motivadora sobre o tema do filme ao estilo de Beautiful, da Aguilera, como tantas que lançaram recentemente). Sair do cinema ao som de Broken Arrow foi bem gostoso.