Os Amantes Passageiros
Os melodramas de Pedro Almodóvar conquistaram o mundo com temas polêmicos e atuais, sutilezas e momentos cômicos, trágicos e criativos. Da genial comédia Mulheres À Beira de Um Ataque de Nervos, passando pelo contundente Fale Com Ela até o seu primeiro suspense, A Pele Que Habito, a rica filmografia do espanhol fez o mundo todo pensar e sair dos cinemas refletindo – para fora de si mesmo ou para dentro. Retomando os primórdios da carreira do cineasta, Os Amantes Passageiros é uma comédia despretensiosa, que fica muito aquém de um cinema autoral de qualidade.
Em um avião em direção ao México, os comissários de bordo resolvem colocar toda a classe econômica para dormir. O motivo é que, devido a problemas técnicos, causados por uma participação especial de Penélope Cruz e Antonio Bandeiras (duas estrelas que já trabalharam com o Almodóvar anteriormente), o avião está andando em círculos, precisando pousar, impossível até que se encontre um aeroporto disponível. Cabe aos comissários entreterem a classe executiva, que logo fica a par da situação da aeronave.
O diretor “chutou o balde” nessa nova produção. Só essa expressão popular basta para descrever Amantes Passageiros, um filme demasiado tosco e superficial. Almodóvar se diverte com uma sucessão de piadas sobre sexo e sexualidade, poucas realmente engraçadas ou bem elaboradas, e parece buscar apenas o riso fácil do espectador. Embora os diálogos sejam afiados, cômicos e por vezes até provocadores, o flerte com a comédia pastelão é grande: e fazer rir com homens dançando como mulheres está mais do que pra lá de ultrapassado, ou não? E, mesmo assim, é o momento mais marcante da obra (destaque também para uma cena de estupro peculiar, um ponto alto no filme), que não tem muito de novo para oferecer.
A fotografia colorida, os temas tabus e situações cômicas pouco improváveis são características do estilo do autor que estão presentes. Entretanto, ao mesmo tempo em que apresenta o seu filme mais gay (um dos temas mais recorrentes da sua filmografia), Almódovar traz também o mais americanizado deles. O diretor avacalhou: não surpreende, não seduz e não provoca a ninguém que está acostumado com seus filmes. Cinema de autor transformado em Todo Mundo Em Panico, edição especial “nas alturas”.
O título Os Amantes Passageiros é sugestivo. O “passageiros” remete diretamente à fugacidade das relações humanas – seja daquele grupo de pessoas que acabaram de se conhecer e já compartilham muitos segredos, ou das relações que cada personagem tem com seu próprio mundinho. Cada um deles conta um pouco na tela de suas vidas e todos parecem personagens muito sozinhos, desapegados, e não muito preocupados com a ideia de que poderiam morrer nesse vôo. Verdadeiros passageiros na vida e no avião. Uma pena o filme não ter explorado essa nuance, tornando-se uma obra tão fugaz quanto essas relações.