Simplesmente Uma Mulher

O Brasil vive nos últimos dias um debate peculiar com relação à contratação de médicos estrangeiros para trabalharem nas regiões que sofrem com a falta desses profissionais. Enquanto uma minoria um tanto cínica teme que sejam importados “guerrilheiros” para um golpe comunista, a comunidade médica, ciente da total carência desse tipo de profissional no país, insiste em se posicionar contra a medida. Em seu blog no site da revista IstoÉ, Paulo Moreira Leite chegou a comparar a postura dos médicos com a de Marie Le Pen, partidária da extrema direita francesa, cujo discurso estabelecia prioridade dos franceses com relação aos imigrantes – apontando um extremismo ainda maior no caso dos médicos por aqui.
Simplesmente Uma Mulher (Just Like a Woman), de Rachid Bouchareb, relaciona-se diretamente com a questão do “estrangeiro”. Duas mulheres de culturas completamente diferentes partem juntas numa fuga de suas vidas infelizes, em busca de grandes mudanças. A primeira, a iraniana Mona (Golshifteh Farahani), vivia um inferno em seu casamento arranjado, por pressão de sua sogra, já que não conseguia engravidar. Acidentalmente, ela erra a dosagem dos comprimidos e acaba matando a mãe do marido – o que a leva a fugir. Já Marilyn (Sienna Miller) é demitida de repente do emprego que mantinha há sete anos e, ao voltar mais cedo para casa, pega o esposo na cama com outra. Ela resolve cair na estrada para participar de um concurso de dança do ventre. 
O filme trata sobre reinvenção e amizade, esta que, como o mundo de hoje, transcende barreiras culturais. A história se passa nos Estados Unidos, o país dominante do mainstream, símbolo do capitalismo e do entretenimento. Entretanto, por mais que a música americana tenha as suas qualidades, é uma dança árabe que conquista Marilyn e concretiza sua esperança de uma nova vida e é numa imigrante em quem a loira se apoia nessa nova fase. EUA e Oriente Médio (a atriz que interpreta Mona é iraniana, mas não fica claro o país de origem da personagem), com todas as suas adversidades, caminham juntos nas estradas que cortam o deserto americano.
Xenofobia e preconceito contra estrangeiros são sintomas da atualidade, problemas que sempre existiram, mas que se tornaram evidentes e acentuados após o fenômeno da globalização e a derrocada do sistema neoliberal. Tais assuntos são abordados, mesmo que timidamente, por Simplesmente Uma Mulher, o que o torna um road movie interessante para reflexões. Tirando a discussão social, é apenas a história de uma amizade, que segue a cartilha do gênero e entrega tudo o que pode se esperar de um filme alto astral na estrada.
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