Os filmes favoritos da 37a Mostra

Encerrando a cobertura da 37a Mostra Internacional de Cinema, o Pop With Popcorn republica agora os comentários do que considera cinco melhores filmes da Mostra!
Foram, ao todo, 19 filmes comentados no período de 15 dias de Mostra, divididos em 5 diários, que você pode acessar clicando a seguir: Diário da Mostra, Vol. 1Vol. 2,Vol. 3Vol. 4Vol.5.

Tivemos também duas entrevistas: com o diretor de “Depois da Chuva” (publicada no site da Revista Fórum) e com o de “Duas Vidas“, Georg Maas. 


Confira o nosso top 5 da Mostra:



1) Miss Violence


Prepare-se para ser provocado. Miss Violence, longa-metragem grego, foi a maior surpresa da Mostra. Imagine um filme que começa com um close numa porta, e, logo em seguida, vai para uma festa de uma garota que acaba de fazer 11 anos. Algo está errado: a garota e sua irmã não sorriem, em oposição ao seu avô que dança com a primeira, sorridente. Nesse momento de suposta felicidade em família, a aniversariante caminha quieta para a janela e se suicida. Perplexos, e sob a mira da assistência social, os parentes da menina tentam retomar as suas vidas, como se a situação traumática nunca tivesse acontecido. Aos poucos, o público vai descobrindo um ambiente opressor e nuances violentas nos personagens, em especial na única figura masculina do filme.

A questão que permeia a obra é o autoritarismo das relações familiares, sendo que nisso se encontra uma longa tradição de passividade e subordinação ao “chefe de família” e o tão frequente uso da violência física e verbal com finais “educativos”. Miss Violence não pretende ser um filme de superação de luto e sim uma crítica feroz a instituição familiar e ao uso da violência. Com pequenas reviravoltas surpreendentes e chocantes, esse é um filme mais que desconfortável, é totalmente desestabilizador. Imperdível! 

 

2) Exilados do Vulcão


Vencedor do Festival de Brasília, esse filme de Paula Gaitán cria uma bela e impressionante experiência onírica. Em contraponto ao caos urbano, Exilados do Vulcão coloca o espectador em contato com a natureza e, assim, com o interior de sua personagem principal, estrelada por Clara Choveaux.  

O filme acompanha uma mulher buscando refazer os passos de seu falecido amado, morto num incêndio. Em sua jornada, a personagem é acompanhada por uma narração em off com algumas de suas reflexões, não muito esclarecedoras, se não o contrário: o objetivo aqui é convidar o espectador a entrar nessa viagem pelas memórias, pela imaginação, pelos sonhos da protagonista, e pelo contato com a natureza e com as relações humanas, sem a interferência da tecnologia. Sem querer explicar tudo a quem assiste. 

Uma experiência sensorial, que apela não só para belas paisagens e para a beleza de Choveaux, como bebe – e deixa isso explícito – na obra de Abbas Kiarostami, proporcionando um cinema de contemplação. Mas não só, pois Exilados no Vulcão traz em sua atmosfera de sonho e em sua narrativa alinear (passado, presente e, suponho, uma projeção de um futuro se misturam) uma provocação mais que bem vinda para o espectador construir o filme junto com ele em sua cabeça, enquanto sente a experiência da personagem como se fosse ela própria. Lembro de uma frase que Suzana Amaral me disse em entrevista, que se referia ao seu Hotel Atlântico, mas parece se encaixar perfeitamente com o filme de Gaitán: “o sentido do filme é não ter sentido”. Assim, o espectador tira de sua própria experiência o sentido que quer construir para a obra. Como entender um sonho? Exilados abre o espectador para esse desafio.

Totalmente sem diálogos, predominam na obra os sons ambientes, como o barulho dos passarinhos, do vento, ou também do trator e dos trens que invadem essa paisagem natural. No começo do longa, a narradora fala que “escrever é calar-se”. Calar-se é sentir o redor, escutar os seus sons. O silêncio dos personagens vale mais do que mil palavras. Na questão sonora, Exilados pode ser um contraponto ao O Som Ao Redor: no filme de Kleber Mendonça Filho, o som é opressor, enquanto no outro, o som parece algo libertador – ou, pelo menos, o som da natureza. Ambas as obras, assim, podem ser consideradas, apenas pela questão sonora, uma crítica ao mundo urbano. O exílio do título é a fuga desse ambiente urbano, esse vulcão prestes a explodir todos os dias, no caos, no stress, na superficialidade – questões que Exilados do Vulcão parece mostrar que são superadas, apenas com o contato com o interior de si mesmo ou com a natureza.



3) Child’s Pose


Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim, esse filme romeno, de longe um dos mais esperados da Mostra, não decepciona quem tinha altas expectativas em relação a ele. Batizado no Brasil como Instinto Materno, o filme trata da relação entre uma mulher de meia idade e seu filho, que quase não fala mais com ela. Quando o homem atropela e mata um garoto, sua mãe fará de tudo para não vê-lo na cadeia.

O papel de Luminita Gheorghiu cativa pela forte atuação da atriz. Ele é central nesse longa que começa com um depoimento dela à respeito da distância com seu filho. O acidente levará todos os problemas entre eles ao extremo da tenção e joga a pergunta: qual o limite de uma mãe para salvar seu filho? Numa situação dessas, como a família do atropelador se relaciona com a do atropelado?

Muitos movimentos de câmera e closes, certa dose de humor e diálogos envolventes completam a obra.

4) Duas Vidas

Dois motivos para ver: é o representante da Alemanha no Oscar e conta com Liv Ullmann, uma das grandes musas do cinema de Ingmar Bergman e um mito do cinema sueco, na ativa ainda com 74 anos. Duas Vidas traz, todavia, Juliane Koehler no papel principal.

O filme conta a história de uma mulher que tem seu passado revirado a partir da chegada de um advogado, interessado em processar o Estado da Noruega pela negligência da situação das “crianças de guerra”, frutos da relação entre soldados da ocupação nazista e mulheres norueguesas.

Duas Vidas é um filme sobre conflitos familiares com um viés policial, de investigação, somado com um plano de fundo histórico. Possui uma trama repleta de nuances secretas, que vão se revelando ao desenrolar do filme. Pode ser um tanto confuso, mas mantém um suspense de alto nível e surpreende bastante com as revelações. A direção é bastante hollywoodiana, lembrando diversos filmes de espionagem americanos. A fotografia e as atuações também são pontos altos do longa.

Duas Vidas é, arrisco a dizer, presença garantida no Oscar 2014. Clique aqui e confira nossa entrevista com o diretor. 

5) Inside Llewyn Davis

O novo filme dos irmãos Ethan e Joel Coen mostra a decadência de Llewyn Davis (Oscar Isaac), um cantor de folk inspirado em Dave van Ronk, famoso nos anos 1960. A fotografia acompanha a vida cinzenta de Davis, um personagem rejeitado por todos. Profissionalmente também: após o suicídio de seu parceiro, o personagem não consegue engrenar carreira solo, tocando, com sorte, em pequenos bares locais. Davis terá ainda mais problemas, por causa de um gato e uma gravidez mais que indesejada de um caso de adultério.


O filme tem um tom melancólico acentuado, todavia, predomina o humor mordaz dos Coen, já característico de suas filmografias. Com diálogos irônicos e trilha sonora marcante e envolvente, o longa é uma ótima pedida. Atenção para a atuação cativante de um gatinho e para o personagem de Justin Timberlake, com sua canção cômica sobre um astronauta.

Está encerrada a cobertura da Mostra!

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Um comentário em “Os filmes favoritos da 37a Mostra

  • 28 de novembro de 2013 a 01:39
    Permalink

    Li suas palavras sobre "Exilados do Vulcão" e como assisti o filme recentemente – parei aqui pela pesquisa do livro do Abbas Kiarostami que aparece no filme – deixo minha (livre) interpretação. Acompanhei a história de um homem que perde sua memória. Parece o eixo perfeito para a troca de atrizes e subjetividade do tempo. Por outro lado, a luta desta(s) mulher(es) para fugir do luto. Obviamente a proposta que instiga uma experiência sensorial amplifica toda angústia para os dois lados.

    Um abraço!

Comentários estão encerrados.

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