Relatos Selvagens
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Por Gabriel Fabri
Escolhido para abrir a 38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o representante argentino na corrida do Oscar 2015, “Relatos Selvagens“, traz seis esquetes com histórias sobre pessoas que, por motivos diversos, perdem o controle diante de uma situação. Com produção de Pedro Almodóvar e de seu irmão, essa comédia de humor negro é dirigida por Damián Szifron.
A história que abre o filme é de longe a mais cativante de todas. O que era uma conversa corriqueira dentro de um avião, logo se transforma em uma situação inimaginável e muito divertida. “Relatos Selvagens” segura a atenção por mais duas histórias, uma que se passa numa lanchonete e outra em uma estrada. Com toques de melodrama, na primeira, e de suspense, na seguinte, Szifron envolve e choca o público, com uma ironia mordaz.
Em seguida, a esquete estrelada por Ricardo Darín coloca o personagem do ator frente às frustrações do dia-a-dia, com o trabalho, a família, o trânsito, os impostos e, principalmente, o guincho. Aqui, o filme diminui o ritmo e também as doses de absurdos, em comparação com as outras histórias, mas a irônica surpresa do desfecho compensa a quebra na adrenalina proporcionada por essa esquete. Darín se destaca mais uma vez em sua atuação e o filme agrega novas camadas às principais questões da obra, como a vingança, por exemplo. É o episódio que mais se parece com o humor refinado de muitas comédias argentinas exibidas em festivais ao redor do mundo.
A comédia dá lugar a um suspense político e policial na penúltima esquete, que destoa completamente do resto do filme, a não ser pela aproximação com o tema da vingança, aqui colocado frente a frente com o da tema da “justiça”. O absurdo e o humor das outras esquetes são ausentes nesse episódio, e o choque se dá pelo realismo de toda a situação. É interessante, mas parece um peixe fora d’água.
Por fim, o humor negro e as situações absurdas retornam na divertidíssima esquete final, que encerra o filme com chave de ouro. “Relatos Selvagens” tem um bom roteiro, com bons momentos de comédia, mas é uma obra um tanto irregular, principalmente por conta da penúltima esquete. Entretanto, não é sempre que vemos o cinema argentino, sempre muito cuidadoso com os diálogos e um humor sutil, com o universo hiperbólico de Almodóvar.