Em DVD: Festa no Céu
O filme mostra como a cultura mexicana encara a morte, onde o falecido, na pior das hipóteses, acaba no esquecimento. Por isso, existiriam dois reinos: o dos lembrados, que é o alegre, e o dos esquecidos, completamente cinza. Cada um deles é governado por uma espécie de anjo: o primeiro é guardado pela La Muerte, uma mulher doce como açúcar; o outro, por uma caveira chamada Xibalba (o nome vem da mitologia maia).
Na trama, a a Muerte e o Xibalba resolve fazer uma aposta: vendo dois melhores amigos, Manolo e Joaquim, apaixonados por uma mesma garota, Maria, cada um aposta em um menino para se casar com ela. A partir daí, o longa-metragem mostra como Manolo e Joaquim, cada um a sua maneira, tentará conquistar o coração – e a mão – da mulher.
Para justificar o didatismo do filme – afinal, é preciso contextualizar alguns aspectos da cultura mexicana para o público -, a história é narrada a algumas crianças, brevemente apresentadas no filme, e que contribuem ao longo da projeção com intervenções, algumas bem engraçadas, como quando um garoto questiona: “que tipo de história é essa? Nós somos só crianças!”. O recurso funciona, aproximando o público desse universo rico em detalhes e tão distante das produções para crianças convencionais.
Misturando música, ação e humor, “Festa no Céu” tem potencial de cativar todo o tipo de público, pais e filhos. Divertido e ousado, o filme ganha muita força com a personalidade forte de Maria, uma heroína feminista e questionadora. Os dois homens, um forte e valente, o outro fofo e sensível, terão que batalhar muito pelo coração da moça. Nessa fábula sobre a vida e a morte, sobra espaço para discutir a relação com os pais, as escolhas para o futuro, as noções de amizade, amor e justiça. E sobra espaço também para discutir a coragem: o que é mesmo corajoso, matar ou não matar o touro?
As crianças certamente perderão alguns detalhes – como quando um toureiro afirma que gostaria de cantar ópera, e a trilha sonora evoca os acordes da “Canção de Toureiro” de “Carmen”, de Bizet – entretanto, a diversão no mundo dos vivos, dos lembrados ou dos esquecidos está garantida.
| Gabriel Fabri