Phoenix
Por Gabriel Fabri
Nelly Lenz (Nina Hoss) é uma sobrevivente dos campos de concentração da II Guerra. Além de todas as marcas que os nazistas puderam imprimir em sua alma, a moça, que costumava cantar acompanhando o piano de seu marido nos bares alemães, retorna com uma marca física – ou melhor, uma deformação. O seu rosto foi completamente desfigurado por um incêndio. Muito rica, ela consegue fazer uma cirurgia de reconstrução facial. Poderia se parecer com qualquer atriz de cinema, mas prefere que o seu novo rosto fique o mais próximo do anterior.
Esse é o ponto de partida de Phoenix, filme alemão dirigido por Christian Petzold (Bárbara). Misturando drama e suspense, a trama acompanha Nelly tentando restabelecer sua vida, voltar ao cotidiano de antes da guerra. O problema é que, após finalmente reencontrar Johnny (Ronald Zehrfeld), o seu marido não a reconhece. E, contrariando todas as expectativas, propõe a ela um acordo: Nelly, que esconde dele a sua verdadeira identidade, deve se fazer passar por Nelly para conseguir que Johnny receba os bens que ela teria deixado, caso tivesse falecido de fato.
Quem encontrar o cartaz do filme nos cinemas brasileiros irá notar uma comparação de Phoenix com os filmes de Hitchcock. A semelhança se dá em um ponto: a partir do momento em que Nelly decide esconder sua verdadeira identidade do marido, começa um suspense, que se sustenta no fato de que a personagem tem um segredo – e o público sabe qual é, mas não tem ideia de como, ou se, ele será revelado.
O suspense funciona e mantém o filme de Petzold instigante até o fim. As boas atuações de Hoss e Zehrfeld contribuem para isso – o homem é sutilmente assustador e Hoss convence no papel de Nelly, fingindo ser outra mulher fingindo ser Nelly. E o final não frusta, pelo contrário, toda a expectativa para saber se o plano vai dar certo, se Johnny vai descobrir a verdade ou se Nelly vai finalmente contar (ou tomar uma medida mais desesperada, afinal, quem se submete a esse tipo de jogo não pode ser uma pessoa equilibrada).