Beijei Uma Garota
Por Gabriel Fabri
No dia do almoço em família em que anunciaria o seu casamento, Jérémie (Pio Marmaï) acorda na cama de uma garota desconhecida. Poderia ser um começo de uma história de adultério como tantas outras, mas logo descobrimos que ele, na verdade, é gay e vai se casar com outro homem. O que parecia ser uma transa insignificante coloca para baixo todas as certezas na vida do personagem principal de Beijei Uma Garota (Toute première fois), comédia francesa dirigida por Maxime Govare e Noémie Saglio.
O filme ganha pontos pela criatividade da premissa – hétero que se descobre gay é uma história relativamente comum, já o contrário, nem tanto. A “primeira vez” de Jérémie, portanto, faz o personagem, que aparenta beirar uns trinta ou quarenta anos, voltar à confusão de um adolescente que está descobrindo a sua sexualidade. Gay assumido desde os 15 anos, o personagem passa por muitas situações desconfortáveis agora que começa a descobrir sua atração por mulheres – ou, por uma mulher específica, Adna (Adrianna Gradziel).
Colocados esses termos, Beijei Uma Garota tinha toda a força para ser uma comédia inovadora. Mas sua força fica apenas na premissa, e nas boas atuações de Pio Marmaï e Lannick Gautry – este, no papel de melhor amigo hétero de Jéréme, que é também o seu sócio. O filme tem momentos realmente engraçados e boas sacadas, mas fica um pouco a sensação de que faltou algo. Além de ter certos momentos sem nexo, como fazer Jéréme pular no gelo para provar o seu amor (Qual o sentido disso? E a cena nem é engraçada…). Mas não é nada que atrapalhe a diversão, que é garantida.
Ao falar sobre sexualidade, o filme de Govare e Saglio sai do “preto ou branco” e acerta ao tratar o tema de maneira leve e não-maniqueísta, mostrando-o da maneira complexa como é. Rende boas risadas, diverte e faz pensar.