Carol
Longa-metragem líder em indicações ao Globo de Ouro e ao BAFTA, Carol retrata um romance entre duas mulheres nos Estados Unidos da década de 1950. Ambientado em uma sociedade que considerava homossexualidade como algo “imoral”, a obra constrói com delicadeza e muitas nuances o conflito interno das personagens na escolha entre ceder ao próprio desejo ou se curvar diante das exigências do conservadorismo e do machismo em voga. A direção é de Todd Haynes, responsável pela minissérie Mildred Pierce, da HBO.
Na trama, inspirada no romance The Price of Salt, de Patricia Highsmith, escrito em 1952 (época em que se passa o filme), Carol (Cate Blanchett) enfrenta um processo de divórcio, onde terá que ser decidida a custódia de sua filha pequena. Ao tentar comprar um presente de natal para a menina, a sua atenção é despertada por uma vendedora da loja, Therese Belivet (Rooney Mara). As duas começam um relacionamento que, pouco a pouco, parece se inclinar a algo maior do que uma amizade.
A direção de Haynes acerta em construir o romance de Carol e Therese aos poucos, causando certa angústia no espectador, que sente a química entre as duas logo no primeiro encontro delas. Equilibrando ternura e tensão, Rooney Mara brilha na pele da garota tímida que nunca sequer sonhou com um relacionamento homossexual e, de repente, se vê tentada a cruzar as barreiras sociais e parar de aceitar o que lhe é imposto. Sua atuação discreta e comovente é o ponto alto do filme, que também tem outra excelente atuação de Cate Blanchett. Carol é uma personagem melancólica, que não perde a pose de mulher durona, mas que parece definhar por dentro, e Cate consegue transmitir isso, sutilmente, em seu trabalho.
Delicado e envolvente, Carol encontra o ritmo certo para o romance, sem deixar de lado as questões sociais. As atuações são o ponto alto, mas não é só isso que é bom. A cena final, por exemplo, é muito simples, mas chega a ser estranhamente magnífica.
Vale a pena um adendo sobre a autora do livro, publicado no Brasil pela L&PM sob o nome Carol. Antes de The Price of Salt, ela escreveu Strangers on a Train, livro que deu origem à Pacto Sinistro, um dos melhores filmes de Alfred Hichcock. Também é autora de O Talentoso Ripley, que foi adaptado para os cinemas duas vezes, por René Clément m 1960 e por Anthony Minghella em 1999.
| Gabriel Fabri