Joy: O Nome do Sucesso

Após duas parcerias com Jennifer Lawrence e Bradley Cooper, em O Lado Bom da Vida e Trapaça, o diretor David O. Russell retorna com o seu bem-sucedido time de atores em Joy: O Nome do Sucesso, um ponto fora da curva na carreira de prestígio do diretor e de seu time de estrelas, que inclui também o veterano Robert De Niro. O longa-metragem escorrega com uma quantidade imensa de personagens mal aproveitados e um enredo pobre e sem sal.

O filme é inspirado na história de vida da empresária e inventora Joy Mangano, com foco no desenvolvimento de sua primeira invenção, o Miracle Mop (“Esfregão milagroso”, em português). A criação, lançada há 25 anos, permitiu que Joy se tornasse um case de sucesso do empreendedorismo norte-americano: hoje ela possui a patente de mais de cem produtos, incluindo os cabides Huggable Hangers, o artigo de maior venda da história da HSN (canal de televisão destino a venda de produtos).

Mas nem sempre foi assim: no longa-metragem, Joy (Lawrence) tivera que abandonar os estudos para cuidar da mãe (interpretada por Virginia Madsen), que passa o dia trancada no quarto vendo novelas, e para tocar os negócios do pai, que tem uma oficina de carros. Além disso, ela tem que lidar com a presença constante do seu ex-marido, que está hospedado no porão da casa; com os afazeres domésticos; e, ainda, precisa cuidar dos dois filhos – tudo isso, é claro, sem dinheiro. Para completar, seu pai (De Niro) resolve voltar para a casa dela, pois está sem lugar para morar após terminar outro casamento.

Os últimos dois filmes do diretor foram marcados por personagens meio loucos e extravagantes. Aqui, Lawrence não repete o papel de desequilibrada: são os pais de Joy que são meio fora dos trilhos. Talvez por isso, essa seja a atuação menos impressionante da atriz, que ganha aqui um papel menor, apesar de ser ela a principal do filme e ter sido premiada no Globo de Ouro. Os personagens de De Niro e Madsen são muito mais interessantes e o longa-metragem poderia ser muito melhor se soubesse explorá-los com mais profundidade – eles são o único alívio cômico do filme, afinal, algo muito bem trabalhado em Trapaça e O Lado Bom da Vida, mas que aqui fazem falta. Por exemplo: quantas situações o roteiro, assinado por Russell e Annie Mumolo, poderiam ser criadas apenas a partir do fato de que o personagem de De Niro e o seu ex-genro são obrigados a viver juntos no porão? No início do filme, quando Joy divide o cômodo ao meio com um rolo de papel higiênico, a situação para a comédia, para o drama ou para a tragédia entre aqueles dois antagonistas está montada. Entretanto, aquilo não resulta em nada concreto para a trama.

O roteiro não só esqueceu a situação do pai e do ex-marido de Joy no porão, como criou um monte de personagens sem sal. A vilã do filme – a meia-irmã de Joy – sequer existiu na vida real. Para o que ela serve na trama? A avó, a narradora, também parece perdida no meio de tanta gente. E o encanador, bom, também está lá perdido nessa história, assim como a novela que passa na TV, completamente desconectada da trama.

Joy: O Nome do Sucesso sofre com o excesso de personagens – o que é uma pena, pois Russell se destacou anteriormente pela direção de atores e, em O Lado Bom da Vida, mesmo com um grande time de atores disputando uma mesma cena, conseguiu um resultado excelente. Aqui, o diretor se perde, e o filme resulta tão desinteressante quanto a programação de vendas da televisão.

O descaso com os coadjuvantes tem outro efeito grave: ele torna excessivo o foco na personagem de Lawrence. Talvez tenha a ver com o fato de que uma das produtoras do filme seja a própria Joy Mangano, o que torna compreensível que o longa-metragem, quando parece que vai acabar, dá um salto desnecessário para mostrar o quão incrível foi o futuro de Joy, a grande heroína do filme. Suspeito, para dizer o mínimo. Mas vale ressaltar que o diretor considera a personagem de Lawrence uma mescla da verdadeira Joy com todas as grandes mulheres da sua vida, o que é uma perspectiva interessante de olhar a personagem.

O longa-metragem tem êxito em pelo menos uma coisa: além de ressaltar a injustiça que é designar às mulheres o papel de “dona de casa”, ele mostra a importância da família para a realização pessoal do indivíduo. Afinal, embora seus familiares tenham atrapalhado mais do que ajudado, Joy não fez tudo sozinha. Poderia ter sido mais fácil com o apoio deles, mas talvez nada teria acontecido se ela não tivesse uma sala de estar abarrotada de gente para ver o seu esfregão sendo anunciado na TV.

| Gabriel Fabri

Em tempo, no Youtube é possível ver a verdadeira Joy anunciando a sua primeira invenção:

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