O Regresso
Líder de indicações ao Oscar 2016, O Regresso deve, se as previsões se consolidarem, proporcionar a Leonardo DiCaprio a sua primeira estatueta (ele já foi indicado cinco vezes ao prêmio). O longa-metragem dirigido por Alejandro Iñarritu (Birdman) é também o favorito a ganhar o de Melhor Filme, por ter vencido o Directors Guild of America Awards, prêmio do sindicato dos diretores. Como Spotlight e A Grande Aposta também saíram vencedores de outros termômetros importantes para o Oscar, a cerimônia que acontece no dia 28 ainda pode trazer surpresas. Mas em um ano com muitos filmes excepcionais na disputa (Mad Max: A Estrada da Fúria em destaque), a sensação é de que O Regresso será um filme premiado pela grande qualidade técnica, mas também por estar fadado a ser esquecido.
Baseado no livro de Michael Punke, o filme homônimo conta a história de Hugo Glass (DiCaprio), que integrou a Companhia de Peles de Montanhas Rochosas, no começo do século XIX. Após serem atacados por índios, o grupo de desbravadores liderados por Glass sofre um grande desfalque. O homem, entretanto, é abandonado pela sua reduzida equipe uma vez que ele é severamente ferido por um urso.
Após dirigir o excepcional Birdman, Iñarritu aqui encontra um grande desafio de direção: o seu estilo, que consiste em filmar todo o roteiro em sequência, combinado pela opção estética de utilizar somente luz natural, tornou as filmagens de O Regresso bastante complicadas – que aconteceram debaixo do frio registrado ao longo de quase toda a projeção. Agora, imagine filmar um plano tão longo como o do ataque logo no início do filme, em que o menor erro de um ator obriga toda a cena a ser refeita.
O resultado do que alguns chamariam de preciosismo de Iñarritu é um longa-metragem com imagens excepcionais. A fotografia, assinada por Emmanuel Lubezki, é de uma beleza ímpar. Pode-se dizer, então, que O Regresso é um filme tecnicamente perfeito – a história fica em segundo plano.
Um longa-metragem sobre um homem à deriva no gelo poderia ser um tanto enfadonho, é fato. Entretanto, a boa direção de Iñarritu faz com que o filme se torne mais interessante do que o enredo promete, o que é um grande feito. Mas mesmo tendo um bom ritmo e excelentes qualidades técnicas, O Regresso tem um problema que deve ofuscar essas qualidades: o personagem principal é perfeitinho demais (para um caçador do século XIX), o único preocupado com os índios (no caso, o próprio filho), e fica difícil se envolver com a sua história. Quem é aquele homem? Não sabemos bem, até o final da projeção, e logo o público deve parar de se importar. A sensação é de que O Regresso é um filme bom, mas que não tem muito o que dizer. E, de fato, não tem.
| Gabriel Fabri