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Entrevista: Para diretor de "Viva a liberdade" e "As Confissões", figura do político choca por sua inadequação e fragilidade - Pop with Popcorn

Entrevista: Para diretor de “Viva a liberdade” e “As Confissões”, figura do político choca por sua inadequação e fragilidade

Integrando a programação do festival 8 e ½, Festa do Cinema Italiano, com exibição nessa terça-feira (dia 30), As Confissões é o novo filme de Roberto Andò. O longa-metragem é estrelado por Toni Servillo, que repete a parceria de Viva a Liberdade com o diretor. Servillo interpreta Roberto Salus, um monge que é convidado para participar de um encontro dos ministros da economia do G8, grupo que representa os países considerados os mais desenvolvidos do planeta. Quando o presidente do FMI comete suicídio, logo após uma reunião com Salus, o monge vira o centro das atenções dos ministros – o que teria sido confessado a ele?

Em entrevista exclusiva, o cineasta comenta alguns aspectos políticos do seu novo filme, que tem previsão de estreia no Brasil para novembro. Para Andò, o que determina a relação entre a política e a vida é a neurose. “Um nó que tem a ver com as nossas aspirações e as nossas misérias”, explica. No longa-metragem, diante do suicídio do diretor do FMI e da postura de silêncio do monge, os políticos são incapazes de lidar com a situação. “O que nos choca hoje é a inadequação do político, sua fragilidade”. Ele fala também sobre a política na Itália, em especial a influência da religião, o que vê como uma questão concluída com Galileu Galilei. “O que existe é mais uma instrumentalização de alguns políticos católicos e de alguns representantes da Igreja e de seus papéis, uma espécie de invasão de campo”.

Confira a entrevista completa:

roberto ando

“As Confissões” e “Viva a Liberdade” falam sobre política, assim como a série de TV que você está desenvolvendo, “L’irresistible ascesa”. Qual a maior dificuldade de trabalhar com um tema tão delicado nos seus projetos?
A política é hoje um tema privilegiado para se contar histórias sobre a vida, sobre a falência da vida. A vida que foge a si mesma. Me interessa muito o que traça uma relação entre a vida e a política, ou seja, a neurose, um nó que tem a ver com as nossas aspirações e as nossas misérias.

Quando você fala sobre política, qual você considera a abordagem mais interessante a esse tema? Quais são os aspectos mais importantes para se falar?
O que nos choca hoje é a inadequação do político, sua fragilidade. O fato de que eu seja atraído pela política e, ao mesmo tempo, tenha vontade de fugir dela. De Gaulle dizia que o poder é impotência. Hoje a gente consegue entender bem o que ele queria dizer com isso. Em geral, o político de hoje representa uma ficção, o ramo mais ilusório do poder, porque o verdadeiro poder hoje está em outro lugar. A política se limita a ratificar as decisões tomadas em outras instâncias, nos locais onde se manipulam os grandes fluxos de dinheiro.

Você vê “As Confissões” como uma crítica da condução política e econômica na Europa, com a ênfase nas medidas de austeridade?
Bem, eu diria que sim, mas o filme não é um retrato sociológico, mas uma representação fantástica do que está acontecendo. Me interessava que os homens de poder, que detêm em suas mãos o destino do mundo, os economistas, se encontrassem diante do imponderável, de algo que não se explica com um gráfico, uma equação. Nestes últimos anos vimos como a economia liberalista desafia Deus, tentando governar e dominar o Acaso. Os economistas usam a expressão ‘cisne negro’ para dar nome aos eventos imprevisíveis, eventos que podem se revelar determinantes no campo especulativo. De toda forma, no filme, eles se vêem diante de um duplo cisne negro, o monge e o suicídio de um deles, o diretor do Fundo Monetário. E não sabem como lidar com isso. Revelam-se incapazes de assumir para si próprios a responsabilidade e o peso de das graves decisões que têm de tomar. O monge os desafia com o silêncio e a piedade. E eles entram em crise. Paralisam diante disso.

The confessions (9)

Quais são as semelhanças entre o personagem de Toni Servillo em “Viva a Liberdade”, um homem que toma o lugar do irmão gêmeo na corrida presidencial falando o que bem entende, e o personagem dele em “Confissões”?
São dois militantes extremos do humano, um louco, o protagonista de Viva la Libertà, e o outro que diz que não possui a própria vida, como o monge de As Confissões. Eu os definiria como dois perturbadores.

No clímax do longa-metragem, um cachorro ronda a reunião da cúpula do G8. O que essa cena significa para você? Como surgiu essa ideia?
Todo o filme se move em torno de elementos que são extremamente realistas e de outros que se insinuam a outros elementos que, além de serem realistas, são alegóricos. O cão é um destes elementos, assim como os pássaros. Não gosto de explicar muito o cinema. Acho que isso é um erro. Mas posso dizer que muitos espectadores vêem no cão a afirmação de uma independência, de uma rebelião que diz respeito aos homens da nossa época, sair da servidão e reaprender a percorrer uma estrada de paz. Mas existe nesta cena, a meu ver, sobretudo um forte componente irônico.

Em “As Confissões”, o monge age como um “outsider” do grupo político. No Brasil, entretanto, nós vemos uma grande influência da religião no Congresso, apesar da laicidade do Estado. Como você vê essa mistura de política e religião na Europa, em especial na Itália?
Na Itália não há uma influência da religião no Estado, esta é uma questão que foi concluída, por sorte, com Galileo Galilei. O que existe é mais uma instrumentalização de alguns políticos católicos e de alguns representantes da Igreja e de seus papéis, uma espécie de invasão de campo. Mas as duas coisas caminham separadas. O problema do Islã hoje é exatamente este, o de manter instrumentalmente juntas as duas esferas, a da religião e a do Direito. Um erro fatal, sempre, seja onde for.

 | Gabriel Fabri

Tradução: Flávia Guerra

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