O Homem nas Trevas – Crítica
Após despontar com um curta-metragem de ficção na internet, o uruguaio Fede Alvarez fez a sua estreia em Hollywood com A Morte do Demônio, remake do clássico de 1981. Sucesso de bilheteria e de crítica, o longa-metragem adicionou muito mais sangue e crueldade na história original, com criatividade e habilidade na direção. Portanto, a expectativa para O Homem nas Trevas (Don’t Breathe), que Alvarez dirige e co-escreve, era grande. Menos perturbador e sangrento que o longa-metragem antecessor, o filme é um surpreendente suspense, ousado em alguns momentos.
Na trama, um grupo de três jovens assaltantes resolve roubar uma casa em um bairro de subúrbio muito estranho, com muitas casas abandonadas, uma verdeira ghosttown. Mas lá mora um idoso que recebeu uma indenização grande após a morte da filha e, como um veterano traumatizado pela guerra que o deixou cego, guarda o dinheiro em sua casa. Parece a oportunidade perfeita para um assalto simples, capaz de fazer esses jovens mudarem de vida. E já do lado de fora as coisas vão se revelar menos simples do que pareciam: porque tantas fechaduras nessa casa?
A primeira reação do espectador é de desconfiança com os protagonistas – os garotos são simpáticos, mas, estão assaltando a casa de um senhor idoso e cego e há algo de muito perverso nisso. O fato de ele ser veterano de guerra também sequer pesa na cabeça do trio de ingênuos, o que mostra que esses jovens são além de tudo idiotas. Mas O Homem nas Trevas não deixa muito espaço também para simpatizar com a vítima do roubo – um homem senil que vive trancado, isolado e de luto -, já que, logo na primeira sequência do filme, é usado como gancho a imagem dele arrastando pela rua uma das protagonistas (Jane Levy, que trabalhou com Alvarez em A Morte do Demônio). É cruel e mostra que esse senhor vai ficar muito bravo com a intromissão dos garotos. Interpretado por Stephen Lang, o personagem é sinistro.
O longa-metragem resulta em uma alucinante experiência de horror. Isso pois o fato de o vilão do filme ser cego torna as coisas ainda mais macabras, possibilitando cenas em que os garotos e o velho estão cara a cara, mas na tensão de que eles serão ou não descobertos – e soma-se a isso o fato de que os garotos precisam fugir da casa – uma verdadeira fortaleza – sem fazer barulho. Que tal acabar com a luz e deixá-los sem enxergar também? E o que acontece quando o cão que eles botaram para dormir acordar? O roteiro tem a chance de criar muitos momentos de tensão, e a direção de Alvarez aproveita isso, inclusive, com uma curiosa reviravolta que não seria possível se o vilão do filme enxergasse. Aliás, reviravoltas é o que não falta nesse filme – tem até um breve instante em que o público deve se perguntar: “ué, e agora?”.
| Gabriel Fabri