O Que Fazemos nas Sombras
Logo na primeira cena, em que o personagem Viago se mostra meio atrapalhado para se levantar do caixão, O Que Fazemos nas Sombras já mostra a que veio. Produção neozelandesa de baixo orçamento, escrita e dirigida por dois de seus atores principais, Taika Waititi e Jemaine Clement, que interpretam Viago e Vladmir, o longa-metragem brinca com os clichês de filmes de vampiros por meio de uma estética de documentário.
A referência maior é nitidamente o filme Borat, de Sasha Baron Cohen. Além de ser também um falso-documentário (“mockumentary”), o filme de Cohen começa com um personagem estranho apresentando, com a maior naturalidade e um orgulho meio risível, o seu mundinho. Se em Borat era o Cazaquistão, aqui Viago apresenta a sua república, onde vive com mais três vampiros, com séculos de diferença na idade. Viago também é um personagem esquisito, preocupado com as tarefas domésticas, atrapalhado para beber o sangue das suas vítimas, que sofre há anos por um amor não correspondido e que toca instrumentos como um verdadeiro músico de orquestra (só que não) – mas, claro, diante das câmeras, ele se acha o máximo. Tanto em Borat quanto em O Que Fazemos, temos um protagonista bobo conduzindo a trama, e daí vem boa parte do humor.
A brincadeira com o documentário funciona para reforçar o humor, uma vez que a aparência de “real” torna aquilo mais absurdo ainda. Também é engraçado como os vampiros agem diante das câmeras – eles querem mostrar como são descolados, como a vida vampiresca é legal, e o humor também vem do fato de que, justamente, eles não são descolados e a rotina deles se parece um tanto quanto a nossa. A estética também traz grandes momentos, como quando o ex-nazista Deacon (Jonathan Brugh) conta para as câmeras como foi transformado em vampiro. O corte para um plano mais aberto revela que o vampiro que o matou estava o tempo todo sentado ali do lado. Muito simples, mas engraçado.
Se em Borat o humor vinha de um choque cultural do personagem em sua visita aos Estados Unidos, o humor aqui também provém de um choque de culturas – a ficcional, vampiresca, e a do espectador. A diferença, é claro, é que o público que é o intruso agora nesse ambiente, é ele que entra no “desconhecido” – que não é tão desconhecido assim, uma vez que os vampiros fazem parte do nosso imaginário e o filme explora todos os elementos: as estacas, a luz do sol, a hipnose, o não-reflexo no espelho; além, é claro, das dificuldades de dividir a casa com alguém, ou de integrar um novo elemento em um grupo. Essa tentativa de mostrar que vampiros são “gente como a gente” vai garantir boas risadas.
| Gabriel Fabri