Doutor Estranho
A arrogância e a prepotência dos “doutores”, mas que pode ser estendida a todos os ególatras, são o alvo da crítica de Doutor Estranho, de Scott Derrickson. O novo filme da Marvel Studios traz dos quadrinhos a história do neurocirurgião Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) que, após sofrer um acidente de carro, tem os nervos de suas mãos danificadas, ficando impedido de operar. Ele busca então a ajuda de uma espécie de monge (Tilda Swinton), que o ajudará a se curar não com a ajuda da ciência, mas com o poder da energia e do universo.
Nessa premissa de um homem da ciência que precisa aprender a ter fé em coisas que não pode controlar ou explicar, o que o longa-metragem de Derrickson traz de novo é o desapego à ciência para explicar os fenômenos. Heróis como Batman, Homem-Aranha, Quarteto Fantástico etc, todos tem uma explicação plausível para os seus poderes: o dinheiro para investir na tecnologia, um experimento que deu errado, um homem de outro planeta, uma aranha geneticamente modificada. Aqui o que acontece é que o poder está no universo, está na força de vontade de cada um de nós alcançarmos. Doutor Estranho, contradizendo o próprio título, é um filme movido pela fé, e não pela ciência.
É também tudo o que se pode esperar de um divertido, mas genérico, filme de super-herói. Muita ação pontuada por humor, grandes provações para o herói, vilões sem carisma ou qualquer complexidade, um par romântico que é obrigado a deixar para trás (Rachael McAdams), referências à cultura pop. Entretanto, por tratar com a questão do tempo e de manipulação do universo, o longa-metragem ganha margem para encantar visualmente, com sequências de ação alucinantes que incluem manipulação do tempo e do espaço, lembrando A Origem, de Christopher Nolan, e os seus prédios dobrando. Tudo é bem amarradinho nesse filme, que cumpre a sua missão de entreter o público e apresentar o personagem do universo Marvel. O clímax até que apresenta soluções criativas, envolvendo um loop no tempo, e a personagem de Swinton acaba tendo um papel um pouco maior do que apenas guiar e aconselhar o herói na jornada.
Provavelmente, todo mundo sairá satisfeito da sessão, mas parece fato consumado que a Marvel, ao contrário da DC Comics que vem aos trancos e barrancos com os seus heróis, vide Esquadrão Suicida e Batman vs Superman, encontrou a sua fórmula de sucesso. O problema é que parece que o estúdio está jogando na sua zona de conforto, e Doutor Estranho é um filme feito no piloto automático.
| Gabriel Fabri