A Cura
Partindo de uma constatação interessante, a de que necessitamos todos de uma cura para o modo de vida frenético que vivemos (e suas consequências como ansiedade e depressão ou, melhor dizendo, a falta de perspectiva sobre o que é realmente importante na vida), o suspense A Cura (A Cure for Wellness) parecia promissor. Nas mãos de Gore Verbinski (O Chamado; trilogia Piratas do Caribe), entretanto, o filme até tem alguns pontos altos, como uma lenda local bem interessante e elaborada por trás dos acontecimentos, mas acaba testando a paciência do espectador com um protagonista pouco carismático que não ajuda no roteiro arrastado e falho – e que, por sinal, abandona essa reflexão que propôs.
Executivo em ascensão de Wall Street, Lockhart (Dane DeHaan) conseguiu um grande acordo por meios escusos. Entretanto, há outros problemas maiores na empresa em que trabalha, e alguém precisa ser o bode expiatório para a hora em que descobrirem as falhas na contabilidade. Fica decidido que seria, então, um antigo sócio que foi para um spa na Suíça e não voltou. Lockhart vai buscá-lo nesse local, que cura as pessoas pela água da região, cuja essência é supostamente medicinal. Tudo dá errado e o homem se vê internado a contra-gosto na instituição, que tem um passado sangrento.
O longa-metragem subestima a inteligência do espectador e com isso perde grandes chances de construir tensão ou suspense. Lockhart é um personagem tolo demais para ser dado alguma credibilidade. Desde assinar um papel em um sanatório sem ver o que é, até fingir-se surpreso ao descobrir que uma menina que obviamente nunca havia saído do sanatório nunca tinha tomado cerveja, ou perder chances de ouro de escapar de um lugar em que desde o começo todos dizem que ninguém nunca vai embora. A frustração com a ingenuidade de Lockhart mina o envolvimento do espectador com o filme – afinal, o público sabe desde o começo que há algo muito estranho acontecendo naquele lugar, e o personagem principal teima em ignorar o que está ali diante dele.
Tudo é óbvio demais para o espectador, inclusive a certeza de que há alguma ligação da jovem Hannah (Mia Goth) com o passado do local (afinal, a primeira aparição dela é como se a garota fosse um fantasma). Por isso mesmo, essa personagem poderia ter sido mais explorada. A ligação dela com Lockhart é frágil, o homem teima em resolver os mistérios do local sozinho, quando poderia ter uma aliada – e essa união poderia tornar tudo mais interessante. Mas é uma oportunidade perdida.
Há uma tensão sexual no filme que é deixada para o clímax, mas que poderia ser mais explorada. No fim, o longa-metragem acaba falando apenas de um pervertido desejo por Hannah que é reprimido. Sobre essa repressão, há apenas um indício, uma cena de masturbação, que não basta para desenvolver o tema. Era para ser algo chocante? Quanto aos desejos dela, há uma bela cena de dança, nesse sentido, mas explorar isso a fundo poderia apimentar a obra – o que ajudaria bastante. Afinal, sequer é trabalhada a possibilidade de desejo entre ela e Lockhart. Há também outra questão não aprofundada, ao brincar com bailarinas de caixinha de música, questionando os limites entre sonho e realidade, mas sem muita inspiração.
Por Gabriel Fabri