Kingsman – O Círculo Dourado
Em tempos em que os filmes de espionagem ficaram sérios, com o amadurecimento da franquia 007 com o Bond Daniel Craig, para citar um exemplo, o primeiro Kingsman recuperava um estilo mais descontraído para o gênero, dominando, com muita ação e humor, os elementos que tornam tão duradoura a presença de espiões na história cinematográfica e literária. Pode-se dizer que Kingsman: Serviço Secreto continha até doses de ousadia, nítidas na cena das explosões finais ou a da Igreja. De novo no comando da direção, Matthew Vaughn acerta novamente em Kingsman – O Círculo Dourado, que consegue ser tão pulsante e divertido quanto o primeiro longa – e espere pitadas de um humor ainda mais ousado e politicamente incorreto nessa nova aventura.
Após os acontecimentos do primeiro filme, Eggsy (Taron Egerton) é surpreendido por um velho desconhecido. Após a Kingsman ser atacada, o garoto segue uma pista com Merlin (Mark Strong), que os leva à uma agência de inteligência independente nos Estados Unidos. Sem pistas de quem estava por trás dos ataques, e com a descoberta que Harry (Colin Firth) está vivo, mas com amnésia, tudo fica claro quando a narcotraficante Poppy (Julianne Moore) manda uma mensagem em uma transmissão na televisão: os usuários de sua droga foram contaminados com um um veneno que só ela possui o antídoto. Em troca dele, a vilã exige ao Presidente dos EUA o fim da guerra às drogas.
Extremamente ágil e divertido, essa sequência conserva todos os elementos que tornaram um sucesso o primeiro filme, mas sem precisar repetir, é claro, a jornada de formação de um novo agente. A divertida participação especial de Elton John, a atuação de Julianne Moore como uma vilã ainda mais perversa (uma personagem intrigante, para dizer o mínimo), e os novos personagens, em especial o cowboy caricato de Channing Tatum, tornam o filme impecável como entretenimento – fique de olho em uma missão em um festival de música e nas imagens de dentro da Casa Branca para ver o quanto Vaughn consegue extrapolar limites mesmo em um blockbuster de alto custo.
Além da diversão, o filme toca em um tema espinhoso, a Guerra às Drogas, e o faz de maneira inteligente. Embora a defensora do fim da proibição seja a vilã, o longa-metragem ganha pontos por trazer a discussão ao centro da trama, e acaba argumentando com inteligência a favor do fim dessa guerra. Não só por que Moore faz uma vilã que é humanizada, mas porque o filme mostra a hipocrisia do poder e dos preconceitos que sustentam essa política. E não é preciso refletir muito para chegar a essa conclusão: basta ver quantas pessoas no filme são infectadas pelo vírus. O Círculo Dourado entrega um entretenimento ousado, político e relevante, o que o torna um dos melhores filmes do ano.
Por Gabriel Fabri