Happy End (41ª Mostra)
O título, obviamente irônico, anuncia um final feliz. Nada diz sobre o resto de Happy End, o novo filme do austríaco Michael Haneke. Exibido no Festival de Cannes, o longa-metragem retrata o cotidiano de uma família francesa rica, dona de uma empresa petroleira. O dia-a-dia é repleto de relações cordiais, em sua maioria, mas com uma tensão velada que marca todo o filme: é o mal-estar das relações trabalhistas, familiares, amorosas, de mãe e filho, ou pai e filha, franceses e imigrantes. É, também, uma provocação à sociedade de imagens, nos tempos das redes sociais.
A indicada ao Oscar Isabelle Huppert (Elle) encabeça o elenco no papel da mãe solteira e dona da empresa da família, que herdou de Georges Laurent (Jean-Louis Trintignant), um senhor já um tanto mau humorado com a vida. A personagem de Huppert, Anne, tem que lidar com dois conflitos: um acidente que feriu um de seus funcionários e o temperamento explosivo de seu filho. O irmão de Anne, Thomas (Mathieu Kassovitz), também tem novos desafios quando sua filha de um outro casamento vem morar com ele, após a ex-esposa ser internada por conta de uma overdose.
Com planos longos, deixando o espectador inquieto, e algumas pequenas e pontuais doses de humor, o longa-metragem vai construindo essas pequenas situações de mal-estar. É algo sutil, e, ao menos nesse filme, Haneke não está interessado no choque que poderia provocar, por exemplo, o desfecho de Amor, seu filme anterior. Pelo contrário: as situações mais tensas não são vistas, apenas ditas.
Há espaço até para brincadeiras: Haneke tira sarro dos “universos compartilhados” de Hollywood ao sugerir uma conexão entre o Georges desse longa-metragem com o do anterior. E o grande trunfo do filme, o seu final, divertido, algo inesperado para a filmografia desse diretor provocador. Beirando o hilário, o desfecho tem muito a dizer sobre a geração das selfies. Imperdível.
Por Gabriel Fabri
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