O Motorista de Táxi (41ª Mostra)
Quando vemos manifestações políticas acabarem em conflitos, é muito comum a narrativa, inclusive em parte dos noticiários, de chamar os manifestantes de “vândalos” ou “baderneiros”. Nos anos 1980, um taxista de Seul (Song Kang-Ho) adotava o mesmo discurso – o que faziam aqueles estudantes protestando contra o governo, fruto de um golpe, ao invés de estudar? O homem, entretanto, irá passar por uma experiência alucinante que mudará a sua vida e a sua maneira de ver o mundo.
Representante da Coreia do Sul no Oscar, O Motorista de Táxi, de Jang Hoon, retrata uma história real, em que um jornalista alemão (Thomas Kretschmann) viaja de táxi para uma cidade que o exército sul-coreano havia cercado. Lá, os militares iniciaram uma guerra com uma série de jovens manifestantes, reprimindo protestos pacíficos com violência.
Bem desenvolvido, o longa-metragem não economiza em sua introdução, em que conhecemos o taxista. Aqui, o filme parece que irá seguir no caminho da comédia, com um personagem engraçado, de mal com a vida (afinal, trabalha duro para pagar as contas e cuidar da filha sozinho, e, se a situação estava ruim, os protestos na capital estão a tornando ainda pior, afugentando seus clientes). Desesperado, ele rouba uma corrida de um colega, ao ouvir que um estrangeiro pagaria bem por uma viagem de um dia.
Os dois seguem viagem, e o filme continua carregado no humor, uma vez que a comunicação entre os dois é quase impossível, pois o taxista mentiu que falava inglês. Aos poucos, entretanto, o tom vai mudando: dentro da cidade, o cenário é de guerra, e o longa-metragem consegue segurar a atenção do público em meio às cenas de tensão e ação.
A atuação de Kang-Ho impressiona e é um dos pontos altos do filme. Junto com o jornalista, o taxista forma uma dupla de contrastes, que funciona bem na trama. E o público acompanha não só aventura para revelar ao mundo o massacre que ocorria ali, mas também a transformação de um homem egoísta e frustrado diante desse cenário.
Por Gabriel Fabri
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