“Calar a voz da arte é o primeiro sinal de um momento perigoso”, afirma Ai Weiwei, diretor de “Human Flow”

O artista plástico chinês Ai Weiwei estava em sua prisão domiciliar na China quando começou a trabalhar em Human Flow: Não existe lar se não há para onde ir, filme de abertura da 41ª Mostra Internacional de Cinema. Em entrevista coletiva em São Paulo, Weiwei conta que o documentário partiu do desejo de entender como 65 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas – e, também, por uma incredulidade diante do tratamento europeu a essa questão migratória.

Com mais de 900 horas de material gravado em uma operação que contou com vinte equipes de filmagem, o longa-metragem traz um panorama diversificado da crise dos refugiados. A ideia é apostar na quantidade de povos retratados e contar um pouco de cada história – os destinos e os pontos de partida são diferentes, mas todos enfrentam condições degradantes semelhantes. Na coletiva, o diretor pontuou que não poderia, em hipótese alguma, afirmar que um campo de refugiados é melhor ou pior que um outro.

Uma coisa em comum que o diretor encontrou foi que, em todos os lugares, os refugiados aceitaram falar – serem ouvidos os ajudou a se sentir um pouco mais humanos. “Ao se tornarem refugiados, eles perdem o senso de identidade, não se sentem mais indivíduos, como se não existissem”, contou o diretor.

Weiwei também falou sobre sua esperança nos indivíduos, na humanidade, e não nas instituições, empresas ou políticos. “Vi pouca ajuda para os refugiados. São 65 milhões de pessoas que perderam as suas casas e o mundo só assistindo. Com as mudanças climáticas, teremos uma onda maior de refugiados no futuro. E os políticos vão na direção contrária, com os EUA querendo construir um muro. Nós vivemos numa sociedade civilizada? Nós temos futuro?”, questionou o cineasta.

Por fim, o cineasta comentou as recentes ondas conservadoras de ataques à arte no Brasil – primeiro a exposição  do Santander, depois a performance no museu.  “Calar a voz da arte, sempre por motivos morais ou religiosos, é o primeiro sinal de um momento perigoso”, concluiu.

Por Gabriel Fabri

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