Mãe no Gelo (41ª Mostra)
Representante da República Tcheca no Oscar 2018, Mãe no Gelo, de Bohdan Sláma, é um filme que retoma um tema muito caro aos melodramas norte-americanos, da época de ouro de Douglas Sirk e Vincent Minelli: o da dona de casa entendiada em sua casa – e presa, pelos seus próprios filhos ou pelos olhares da sociedade, a ela.
A libertação de Hana (Zuzana Kronerová) de seu cotidiano infeliz se dará na figura de seu neto, que apresenta comportamento violento a princípio. O garotinho também é uma das figuras que oprimem a viúva, em um episódio em que ele agride sua avó por achá-la “fedida”. Depois, Hana descobrirá que é assim que a mãe do garoto, sua cunhada, a descreve. Notando os problemas do garoto com os pais, Hana o leva para passear, e acaba se interessando pelas competições de natação no rio gelado do inverno tcheco. Lá, conhece Brona (Pavel Nový), um dos nadadores idosos.
Como em Tudo O Que O Céu Permite, um dos mais célebres melodramas dos anos 1950, os filhos de Hana iriam preferir que sua mãe ficasse com uma televisão ao invés de um novo amor – ainda mais um nadador sem os modos de classe média da família. Como o jardineiro interpretado por Rock Hudson no filme de Sirk, Brona é uma pessoa considerada inferior pelos familiares. A diferença aqui é que estamos na República Tcheca do século 21, e, ao invés de lutar para conquistar a família de seu amor, o senhor irá mesmo é levar uma galinha viva para o almoço de família, pois não podia deixar o animal sozinho em casa.
Com alívio cômico, Mãe no Gelo retoma temas dos melodramas tradicionais estadunidenses, mostrando a saga de libertação da viúva de seu ambiente familiar repressor e disfuncional e também que nunca é tarde para mudar a própria vida. É leve, bem amarrado e conta com uma ótima interpretação de Kronerová.
Por Gabriel Fabri
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