Assassinato no Expresso do Oriente
Os nomes Lauren Bacall, Ingrid Bergman e Sean Connery talvez não signifiquem muito para as novas gerações de jovens. Mas esses grandes atores estampavam o poster da adaptação de Sidney Lumet de 1974 para um dos romances mais populares da escritora inglesa Agatha Christie, autora reconhecida pelo engenhosidade de suas histórias policiais. O livro agora é adaptado novamente para os cinemas, e a nova versão traz também um elenco de grandes estrelas de sua época (Penélope Cruz, Michelle Pfeiffer, Judi Dench e Willem Dafoe, entre outros), além de ser comandada por um cineasta com grande experiência em levar a literatura para o cinema: diretor de Hamlet e Frankestein de Mary Shelly, Kenneth Branagh interpreta o inspetor Hercule Poirot em Assassinato no Expresso do Oriente, além de assumir a direção do filme.
A história é simples: um trem que parte de Istambul está estranhamente cheio para o inverno. O inspetor Poirot precisa ser encaixado de última hora nesse expresso, pois é chamado a Londres com urgência para resolver um caso. Uma nevasca atrapalha os planos de todos os 14 passageiros, com o trem impedido de seguir viagem, no meio do nada. Se não bastasse essa inconveniência, descobre-se que, de madrugada, ocorreu um assassinato em uma das cabines. A vítima é o homem responsável pelo sequestro e pela morte de uma criança, alguns anos antes: o mercenário Ratchett (Johnny Depp). A suspeita é de que o assassino esteja ainda dentro do expresso.
Branagh tem uma tarefa gigante com esse remake. Trata-se de uma adaptação de um romance clássico e que já teve sua versão nos cinemas, com elenco de peso e oito indicações ao Oscar (das quais a sueca Ingrid Bergman saio com o prêmio de Atriz Coadjuvante). Embora seja um livro curto e bastante claro, um mistério envolvendo pouco mais de dez suspeitos é algo claramente difícil de administrar. Branagh ainda assumiu para si o papel principal, já de olho também na possibilidade de outros romances de Agatha Christie, focados no mesmo personagem, ganharem as telas – ele negocia para repetir o papel em Morte no Nilo.
O resultado é satisfatório. Primeiro, pois o inspetor de Branagh é muito mais divertido e menos caricato do que o Albert Finney, e ele carrega o filme com leveza. O roteiro minimiza a importância de algumas pistas que ganhavam mais atenção do inspetor no romance, como o relógio na cena do crime ou uma mancha em um passaporte – a sequência da mancha é emblemática: o inspetor descobre o por quê dela na mesma cena em que a vê, e não muito tempo depois, como no livro (ou seja, o filme apresenta os fatos de maneira mais eficiente, economizando tempo). Uma introdução mais envolvente, com um breve relato de um outro caso do inspetor, traz um pouco mais de ação à trama – que, na essência, trata-se apenas de uma série de interrogatórios.
Com alguns detalhes curiosos, como a câmera no teto, de maneira ao público poder visualizar melhor os espaços, em especial a cena do crime, Assassinato no Expresso do Oriente é uma excelente adaptação e funciona bem como entretenimento. Traz também uma reflexão sobre as diferenças, expondo preconceitos dos passageiros (o pretexto é bom, pois a trama é mantida nos anos 1930).
Por Gabriel Fabri