Suburbicon: Bem-Vindos ao Paraíso
A construção do subúrbio como o lugar da vida pacata e perfeita do norte-americano bem sucedido, o paraíso do chamado “american way of life”, conceito que supostamente define um estilo de vida genuinamente estadunidense, já foi desmistificada diversas vezes ao longo da história do cinema. Em Suburbicon: Bem-vindos ao Paraíso, o diretor George Clooney nos traz de volta aos anos 1950, quando diretores como Douglas Sirk e Vincenti Minneli faziam os clássicos melodramas familiares – foi o ápice do gênero. Esses filmes tinham um quê de subversivo ao questionar os valores americanos, a hipocrisia daquela sociedade e o papel da mulher nesse contexto. Com roteiro do próprio Clooney com os irmãos Coen, o longa-metragem se aproxima em alguns pontos dessas produções, ao contar a história de um crime que aconteceu por trás da fachada da vida perfeita de mais uma familiazinha supostamente perfeita do subúrbio.
A trama é simples: uma casa é assaltada no meio da madrugada e, acidentalmente, a matriarca da família acaba assassinada. Gardner (Matt Damon) e seu filho passam a viver na casa com a irmã gêmea da mãe, interpretada por Julianne Moore. Mas o garoto logo começa a desconfiar que a mãe tenha sido morta, na verdade, a partir de um complô entre o pai e a tia.
Com humor irreverente característico das produções dos irmãos Coen, o filme ganha força no clímax, que apesar de não ser o auge da criatividade dos autores, consegue finalmente prender a atenção com algumas reviravoltas interessantes. Mas um bom jeito de encerrar a trama não é suficiente para caracterizar um bom filme e “Suburbicon” derrapa em vários pontos. O primeiro é a artificialidade das relações naquela casa, em especial quanto a Gardner, um personagem impossível de simpatizar desde o início – seu relacionamento com a tia não convence, e sequer é bem aproveitado pelo roteiro. A polícia e os vizinhos também são subtramas que não geram nenhum obstáculo na trama principal, ficando meio à deriva da ação principal.
Retratando o racismo na classe média da época, um tema clássico dos melodramas dos anos 1950, o longa-metragem consegue a sua maior qualidade: expor a mentalidade pequena das pessoas. Não só pelo preconceito raivoso em si, mas pela ironia de os moradores daquela comunidade falarem que, antes da família negra chegar, os crimes não aconteciam naquela cidade. Isso quando é claro que ninguém daquela família se envolveu com crime algum ao longo do roteiro – de incendiar um carro a assassinato, todos foram cometidos por brancos “cidadãos de bem”. Assim, Suburbicon mostra como o preconceito é ligado não só à ignorância, mas à hipocrisia daqueles que se dizem melhores do que os outros.
Por Gabriel Fabri