Jogador Nº 1 – Crítica
Responsável por grandes aventuras, como as sagas Jurassic Park e Indiana Jones, o diretor Stephen Spielberg (The Post – A Guerra Secreta) volta ao gênero – mas, dessa vez, com uma aventura futurista: Jogador Nº 1. Baseado no livro de Ernest Cline, o longa-metragem diverte, mas acrescenta pouco ao cenário de distopias adolescentes que rendeu alguns dos blockbusters mais interessantes dos últimos anos, tais como as sagas Jogos Vorazes, Divergente e Maze Runner.
A trama do filme se passa em um futuro não muito distante, no qual a população inteira vive conectada por meio de um jogo de realidade virtual chamado Oasis. Nesse jogo, as pessoas acumulam riquezas e poderes especiais, podem ser quem elas quiserem, e estar no lugar que quiserem, como se fossem donas do mundo. Entretanto, o falecido criador do jogo escondeu um desafio: quem encontrar três chaves escondidas irá ter o controle total do jogo e da empresa. É claro que a empresa concorrente busca desesperadamente esse controle, uma vez que toda a sociedade dedica toda as suas vidas a esse jogo, em uma total imersão (ou seria uma rendição?). O roteiro foca em dois personagens: os jogadores Parzival (Tye Sheridan) e Art3mis (Olivia Cooke).
Repleto de referências à cultura pop, incluindo uma excelente situação envolvendo O Iluminado (de Kubrick), o longa-metragem desenvolve bem o personagem do protagonista e o seu interesse romântico. Ao mesmo tempo, dialoga com a atualidade ao retratar a situação de conhecer e se relacionar com pessoas na internet que nunca encontramos pessoalmente. O time de coadjuvantes que ajudam o protagonista na aventura também não faz feio, ajudando a manter o filme no clima de aventura e alto astral.
Jogador Nº 1, entretanto, tem os seus problemas. O clímax é longo e traz uma pouco inspirada cena de batalha animada – como já virou clichê do gênero ter uma interminável batalha no final, um teste de paciência, mesmo que ela tenha algumas ideias originais, como uma participação especial inusitada de um brinquedo. Além disso, o fato de se conhecer pessoas no mundo online, e o perigo por trás disso, não gera caldo para a trama, que prefere focar a vilania na empresa concorrente, representada pelo vilão Sorrento (Ben Mendelsohn) – o esquema maniqueísta com o qual se dividem mocinhos e bandidos aqui não é dos mais eficazes, pois torna o filme uma história de um grupo de jovens independentes que tentam salvar uma empresa de cair nas mãos de sua concorrente.
Essa é a distopia aqui: em um mundo destruído, jovens lutam para impedir que uma empresa caia nas mãos da outra. Trazendo para os dias de hoje: imagine um grupo de pessoas lutando pela integridade do Facebook de não ser adquirido pelo Google – porque um, supostamente, é do bem, e o outro, é do mal. Somos levados a acreditar na mitologia que o próprio criador do jogo construiu para si mesmo, e a pensou de maneira que ela se fortalecesse ainda mais após sua morte, e torcer por esses garotos que bravamente tentam solucionar todos os enigmas e impedir que o mundo virtual caia nas mãos erradas. Uma vez que a sociedade e o mundo real foram tragados pelo virtual – um lugar onde quem você é não importa, só quem você gostaria de ser.
Por Gabriel Fabri
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