Suspiria – A Dança do Medo – Crítica
Um dos maiores clássicos do gênero de horror, Suspiria (1977), de Dário Argento, marcou o cinema com a sua atmosfera onírica, construída a partir de cores vibrantes e não realistas e uma trilha sonora impactante. Primeira parte da chamada “Trilogia das Mães”, sucedida por A Mansão do Inferno (1980) e O Retorno da Maldição: A Mãe das Lágrimas (2007), o filme também flertava com o gênero italiano giallo, histórias de serial killers precursoras dos slashers, mas se afastava pelo quê sobrenatural da trama.
Coube a Luca Guadagnino, diretor de Me Chame Pelo Seu Nome, a missão de dirigir Suspiria – A Dança do Medo, remake do filme de 1977. Sem se prender muito ao original, o cineasta optou por deixar os tons vibrantes de vermelho para o final e contextualizar o filme na Berlim decadente e dividida dos anos 1970. A estética perde o tom onírico e ganha um quê mais realista nessa versão, agora dividida em capítulos.
Assim como no original, Susie Bannion (Dakota Johnson) é uma estudante de balé que se muda para a Europa estudar em uma prestigiada escola. Lá, descobre que uma das alunas, Patrícia (Chloë Grace Moretz), desapareceu. Aos poucos, porém, surgem suspeitas de que algo sinistro ocorre na instituição, gerida por Blanc (Tilda Swinton). Nessa versão, é o psicólogo de Patrícia, também interpretado por Swinton, que começa a levar a sério os supostos delírios de sua paciente após o seu desaparecimento, e começa sua própria investigação – afinal, “toda alucinação é uma mentira para contar uma verdade”. Mia Goth (A Cura) completa o elenco no papel de uma das alunas, Sara.
Com um desfecho que altera a mitologia do filme original e uma estética diferente, Suspiria deve agradar aos fãs do original, trazendo surpresas e uma carga dramática e poética maior. O trunfo dessa versão é a dança, que estava em segundo plano no primeiro filme. A cena em que Bannion faz o teste para o papel principal, em paralelo à tortura de uma outra garota, por exemplo, impressiona pela sua força de contrastes – as coreografias de Damien Jalet, no geral, trazem um impacto visual e emocional muito intenso para a obra, e esse é apenas o primeiro momento no qual elas fazem cair o queixo.
A força dessa cena só é possível, porém, porque o roteiro tenta mais uma vez se afastar do original, deixando claro, desde o princípio, de que sim, algo sobrenatural habita pela casa. É uma decisão inteligente já que boa parte do público interessado no filme já pode ter tido algum contato com o original – logo, a obra tenta criar surpresas que funcionem com todos os públicos, os fãs do filme de Dario Argento e a nova audiência. Funciona, com ressalvas: o longa-metragem se estende além do necessário, principalmente se tratando do personagem do psicólogo, forçando uma conexão desnecessária dele com as garotas e o local. Colocá-lo como central no filme, e não apenas um fio condutor da narrativa, faz Suspiria perde um pouco de força no final, que poderia terminar com louvor no seu ápice sangrento e erótico.
Por Gabriel Fabri
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