Amanda – Crítica
Dramas familiares podem ser uma armadilha para seus realizadores, pois as chances de se apoiarem em um sentimentalismo apelativo e se tornar piegas são muito grandes. Isso não é o caso de Amanda, novo filme do cineasta francês Mikhäel Herz.
A trama gira em torno de David (Vincent Lacoste), um jovem de bom coração e sem grandes ambições, que tem a vida transformada após se ver responsável pela sua sobrinha, Amanda (Isaurie Multrier).
O longa começa acertando ao retratar um pouco da rotina do protagonista, em empregos infrutíferos e com poucas responsabilidades. Logo em seguida, quando somos apresentados à sobrinha e à irmã, Sandrine (Ophélia Kolb), percebemos que há bastante afeto entre esses personagens, o que faz com que nos apeguemos a eles. Fator muito importante para que o filme cumpra aquilo que se propõe: retratar como as perdas transformam nossas vidas e as dificuldades de se adaptar a elas.
Após Sandrine morrer em um atentado terrorista, a obra muda radicalmente o tom. O que antes era leve e alegre, torna-se denso e melancólico. Não vemos, porém, mudanças radicais em elementos mais técnicos como fotografia, direção de arte ou figurino, recursos comumente utilizados para emocionar a qualquer custo o espectador. Somos de fato emocionados, porém principalmente pelo talentoso trabalho dos atores e pelo próprio roteiro, que anteriormente trabalhou aqueles personagens de maneira que, agora, somos afetados quando perdemos ou os vemos sofrer.
Diante dos acontecimentos, David percebe que o estilo de vida simples e despretensioso de outrora, talvez não seja compatível com as responsabilidades de criar uma criança. Já Amanda se vê confusa e ferida, tanto pela perda da mãe quanto pela nova vida, agora desprovida dos luxos de outrora.
Há momentos em que os protagonistas entram em contato com personagens menores, porém de grande importância, aliviando o desconforto gerado pelo intenso luto vivido pelo tio e sobrinha. Vale destaque, por exemplo, o relacionamento afetivo entre David e a sua vizinha Lena, interpretada de maneira econômica, porém eficiente por Stacy Martin.
Amanda é um filme cuja premissa poderia resultar em algo piegas e apelativo, porém graças a um roteiro humano e atores aplicados na construção de seus personagens, torna-se um interessante retrato do comportamento, individual e coletivo diante das perdas.
Por Caio Ramos Shimizu
Confira o trailer de Amanda clicando aqui.