Brinquedo Assassino – Crítica

Longa-metragem aposta no humor para reviver franquia do boneco Chucky

Andy ganhou um brinquedo novo! Essa premissa, conhecida, é a do primeiro Toy Story, no qual a chegada de uma miniatura moderna de astronauta trouxe desequilíbrio ao ambiente harmonioso dos bonecos antigos do garoto. Em 2019, a frase ganha um novo contexto: lançado nos EUA no mesmo dia de Toy Story 4, em uma excelente jogada de marketing, Brinquedo Assassino recria a franquia de horror dos anos 1980 fazendo o que toda criança faz melhor: brincar.

Além de citar a franquia de animação, colocando o personagem principal com o mesmo nome da criança de Toy Story e ter também a sua própria música tema infantil, o longa-metragem dirigido por Lars Klevberg carrega a essência de ser criança: é humilde e brincalhão.

Sabendo que tem um material tosco em mãos, e uma legião de fanáticos pelas produções trash anteriores, o filme se constrói como um grande delírio que sequer tenta ser levado a sério. Quase não há terror aqui, apenas graça com o fato de se tratar de uma história com um boneco psicopata e carente. Chucky, aqui, é tão feio que só a ideia das pessoas fazendo fila para comprá-lo já é por si própria engraçada.

Tendo no seu humor a sua força, o filme acerta, e o escrachado quase cruza a linha do politicamente incorreto com piadas até com deficiência auditiva. Mas, na tentativa de atualizar a franquia, o longa-metragem também vai no caminho oposto, desconstruindo a convenção da loira burra que é a primeira a morrer: não há sequer uma loira nesse filme e as primeiras vítimas são homens asquerosos que desrespeitam as mulheres. O ponto é: se o filme tivesse interesse na criação de um terror, faria o público se importar com as vítimas e não tratá-las como completo idiotas (as idiotices das situações são das mais absurdas, podemos garantir).

Brinquedo Assassino, brincando com o gênero do horror e com o machismo da sociedade, ainda tem mais comentário social: primeiro, toda a carnificina poderia ser evitada caso a empresa fabricante se preocupasse com o bem-estar dos seus funcionários em uma fábrica no Vietnã; segundo, o boneco do título não é um mero objeto para crianças, e sim um dispositivo conectado à nuvem, muito similar ao Alexa da Amazon, que já existe nos lares dos EUA e está em testes no Brasil. Quais as consequências de deixar um dispositivo conectado à internet controlar diversas coisas em sua casa? Até que ponto estamos trazendo um perigo para dentro de nossos lares?

Horror trash para rir e distopia com comentário social, Brinquedo Assassino é, mesmo sem apresentar grandes ousadias, uma grata surpresa. A diversão só não é garantida para quem quer, de fato, sentir algum medo.

Por Gabriel Fabri

Confira o trailer de Brinquedo Assassino:

Nota:

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