O Rei – Crítica

Com Robert Pattinson e Timothée Chalamet , O Rei é uma produção original da Netflix

Filmes antibelicistas geralmente tem cenários em conflitos mais recentes, clássicos como Gloria Feita de Sangue (1957), Platoon (1987) e Apocalipse Now (1979) se apoiam em eventos bélicos do século XX. Batalhas ocorridas em períodos históricos mais distantes, evocando a Antiguidade e a Idade Média, geralmente não são usados como pano de fundo para narrativas pacifistas. Na verdade, o contrário: tais acontecimentos acabam gerando narrativas ufanistas glorificando as velhas “jornadas heroicas” desses povos. Porém isso não é o caso de O Rei, nova produção original da Netflix, que traz Robert Pattinson e Timothée Chalamet no elenco.

Dirigido por David Michôd, o longa-metragem tem como cenário a Guerra dos Cem Anos, a longa beligerância entre Inglaterra e França ocorrida no final da Idade Média e que ajudou a construir as conjunturas que caracterizaram a Idade Moderna. O longa tem como protagonista o rei Henrique V da Inglaterra que, embora criado longe da corte, acaba assumindo a coroa após a morte do seu pai e do seu irmão.

Repleto de acertos e pontos positivos, O Rei é engrandecido principalmente pelas suas atuações. Timothée Chalamet, no clássico arquétipo do “líder que não quer liderar, porém que é empurrado à liderança”, entrega um personagem no tom correto: ora desiludido, ora obcecado; sempre melancólico. Sean Harris também dá um show de composição, interpretando um homem manipulador, cheio de trejeitos e excentricidades que, graças as habilidades do ator, soam naturais, criando uma figura ao mesmo tempo esquisita e carismática. A caricatura – no bom sentido – fica por conta de Robert Pattinson, interpretando, de maneira nada econômica, um psicótico príncipe francês. Tal atuação, que poderia destoar do tom da obra, se mantém alinhada graças ao contexto em que o personagem é apresentado.

O cuidado com os aspectos técnicos também é impecável: o figurino e a direção de arte atendem exatamente os padrões que uma produção de época de grande porte necessita. Porém o que chama atenção, de fato, é a fotografia. Sempre cinzenta, alinha-se completamente com clima desolador do filme. Há também cenas noturnas, iluminadas apenas pela luz das chamas, que resultam em imagens belíssimas.

A essência de O Rei, todavia, está em seu final, quando é revelado ao protagonista os fatores que causaram o conflito que ele liderou, e também quando ele se depara com as consequências e “recompensas” da guerra que a proposta da obra se consolida. O pessimismo com que “as glorias da guerra” são tratadas dão o tom filme e o discurso antibélico é gritado com todas as forças.

Embora alguns clichês e fraquezas de roteiro estejam na obra, O Rei é sem dúvida alguma um êxito da Netflix. Uma importante crítica à guerra e a líderes capazes de colocar os interesses pessoais acima de qualquer coisa, gerando glórias magras e dores robustas.

Por Caio Shimidzu

Confira o trailer de O Rei:

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