Deerskin: Estilo Matador
Novo filme de Quentin Dupieux, diretor de “Rubber – O Pneu Assassino”, Deerskin estreia no streaming
“É um pouco estranho esse filme, não é?”.”Nem um pouco, é genial”. Esse diálogo de Deerskin: Estilo Matador parece uma ironia ao ego de diretores que fazem filmes pretensiosos demais, mas também cai como luva para descrever o próprio longa-metragem. Em mais uma obra que discute o cinema de maneira estranha e criativa, como é comum em sua filmografia (ver Rubber – O Pneu Assassino), o cineasta Quentin Dupieux usa a metalinguagem para falar não só sobre a sétima arte, mas também sobre as obsessões e manias nas quais se agarra para dar algum sentido – qualquer sentido – a uma existência medíocre.
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Após ser dispensado pela esposa, o pacato George (Jean Dujardin) marca a transição para uma nova fase de sua vida tentando dar a descarga em sua jaqueta, em um posto de gasolina. Ele está a caminho da casa de um senhor que lhe vende uma jaqueta de couro, 100% pele de cervo. George gasta uma fortuna na peça e ganha, de brinde, uma filmadora velha. Hospedado em um hotel no meio do nada, ele fica obcecado pela peça de roupa, passando até a conversar com ela. Dos diálogos com a vestimenta, o homem descobre um novo sonho para a sua vida: ser a única pessoa do mundo a usar jaqueta.
Mais do que um retrato de um senhor em crise de meia idade, sem perspectivas para a vida, Deerskin fala sobre nossas obsessões, e como nos apegamos a coisas materiais de maneira sem sentido. Também fala sobre o sentido que damos a objetos, o apego que se dá a eles, baseando nossa autoconfiança em fatores externos, como uma peça de roupa estilosa com um “estilo matador”. Por fim, discorre sobre a dificuldade de nos reinventarmos em meio à uma crise – George, por exemplo, resolve, para atingir o seu novo sonho, virar um “cineasta” (entre aspas mesmo!) e, para isso, contará com a ajuda de uma garçonete, Denise (Adèle Haenel). A prova, ou não, de que qualquer um pode fazer cinema!
Mesmo tendo um ritmo lento que demora a engrenar, Deerskin: Estilo Matador conquista o público à medida em que o documentário do personagem começa a tomar forma. Embora não tenha elementos surrealistas, como é de praxe na obra de Quentin Dupieux, o longa-metragem, escolhido para a abertura da Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes de 2019, ainda consegue ser estranho e absurdo à sua maneira.
Por Gabriel Fabri
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