A Santa do Impossível (44ª Mostra Internacional de Cinema)
A Santa do Impossível é destaque na programação da 44ª Mostra Internacional de Cinema
O cinema foi um dos principais responsáveis pela construção do “sonho americano”. Todavia, a crítica à sociedade estadunidense e a exposição de suas falhas e hipocrisias também teve o cinema como arauto. Em A Santa do Impossível, a desaprovação ao “american way of life” é clara e catalisada pela visão de uma família de imigrantes ilegais peruanos em Nova Iorque. O filme integra a programação da 44ª Mostra Internacional de Cinema.
No filme dirigido por Marc Wilkins, acompanhamos a trajetória de Rafaella e seus filhos adolescentes Tito e Paul. Logo nos primeiros minutos percebemos a fragilidade daquelas pessoas naquela cidade, submetidas a condições de trabalho estafantes e também à indiferença dos nova iorquinos.
Dessa forma, A Santa do Impossível acerta em usar um tom mais realista para desenvolver o enredo. Tal realismo, porém, passa longe do apelativo ou da submissão daqueles personagens à cargas absurdas de sofrimento. Na verdade, há no longa uma atmosfera equilibrada, ora bem-humorada ora taciturna, mas acima de tudo crível e que torna, apesar das dificuldades, aquelas pessoas protagonistas de suas histórias, não vítimas.
Sendo o filme, acima de tudo, a jornada daquela família, o caminho percorrido é o da ilusão para a desilusão, do afastamento à aproximação. Logo a mãe e os filhos irão se distanciar e os motivos são, tanto para Rafaella quanto para Tito e Paul, muito semelhantes. Embora para ela fale mais alto a necessidade de abandonar a rotina estafante de trabalho e, para eles, grite a explosão da sexualidade, são os interesses amoroso que movem os personagens. Ela cai na lábia de um escritor suíço picareta que logo se revela um explorador; eles se fascinam por uma jovem croata cuja realidade obscura a leva cometer um crime que os prejudica diretamente.
Logo vem uma separação total, fruto da explosão das tensões que já vinham crescendo nos caminhos trilhados pelos personagens. Ironicamente é neste rompimento total que A Santa do Impossível promove uma reaproximação entre Rafaella e seus filhos. Ela sai à procura deles pela cidade de Nova Iorque enquanto eles estão deportados no Peru. Mesmo a milhares de quilômetros de distância, a simples necessidade de se reconectar os reconectam. Ao mesmo tempo, é justamente o mergulho na ilusão que os traz radical e duramente de volta à realidade.
Tal jornada, porém, só seria interessante ao espectador caso a empatia pelos personagens fosse construída com habilidade. Dessa forma a narrativa aposta em flashbacks: ao mesmo tempo em que vemos o desenrolar das ações dos personagens, vamos acompanhando Rafaella à procura dos filhos. De fato o recurso pode ser meio confuso no início do filme, porém a medida que a enredo se aproxima do desfecho, confere uma intensidade dramática enorme.
A parte todos os acertos presentes em A Santa do Impossível, este momento em que o filme é produzido o confere uma aura semelhante a de filmes como O Grande Ditador e Roma, Cidade Aberta. Em tempos de acirramento aos direitos dos imigrantes e da construção de muros, a única saída é nos reconectarmos para superar a dureza de nossas realidades.
Por Caio Shimizu
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